Você já sentiu que alguma coisa estava errada em seu relacionamento, mas não conseguiu identificar exatamente o que? Já teve a sensação de que as brigas de vocês eram diferentes – bem mais graves e frequentes – do que as de outros casais? Já sentiu culpa por não conseguir mudar e ser aquilo que seu parceiro desejava? Se responder “sim” para alguma dessas questões, fique de olho. Você pode ter passado por um relacionamento abusivo.

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Na prática, é possível identificar um relacionamento abusivo quando uma das partes passa a “dominar” a relação, usando todos os artifícios que conseguir para envolver a outra pessoa e, aos poucos, acabar com a autoestima e deixá-la cada vez mais submissa.

relacionamento abusivo

Quais os tipos mais comuns de abuso psicológico nos relacionamentos?

Conversamos com a Dra. Danielle Trabuco, Psicóloga Familiar e de Casal, que listou alguns tipos comuns de abusos psicológicos nos relacionamentos. São eles:

  • Humilhações e constrangimentos no relacionamento a dois e quando estão em público
  • Desconstrução da imagem do homem ou mulher
  • O parceiro sempre coloca o outro para baixo fazendo se sentir inferior e não fica feliz pelas conquistas do outro
  • Faz o outro se sentir incapaz com frases “você não é bom nisso”, “desista, não é para você”, “você não fez nada certo”, você é lenta”, “você não tem inteligência”
  • Criticas com frequência desqualificando a identidade do outro, e está sempre querendo se mostrar superior ao parceiro
  • Tom de voz desrespeitoso com grosserias, gritos e xingamentos
  • O parceiro está sempre controlando o outro em todos os aspectos da sua vida como permissões de lugares onde pode ir, com quem pode falar, como deve se comportar e outras limitações
  • Ausência de afeto e carinho no relacionamento de forma punitiva
  • O parceiro cria um isolamento afastando a família e amigos
  • Ameaças e chantagens diversas (separação, atentar contra a vida de si e do outro, usa os filhos como escudo, uso frases abusivas “se você me deixar, nunca vai encontrar alguém melhor”, “ninguém nunca vai te amar” ou “ninguém nunca vai te querer”? “se você não fizer isso…” ou “se você fizer tal coisa…”, “é melhor para você fazer o que estou dizendo…”,) nutrido o sentimento do medo de forma negativa.
  • O parceiro mantem um controle financeiro ou a impede o outro de trabalhar e estudar;
  • Demonstra reações exageradas e explosivas em situações simples do dia a dia, reagindo de forma agressiva, ignorante e até mesmo com violência física. Incapacidade de perceber que sua reação está sendo desproporcional ao fato ocorrido, pois erros são janelas para aprendizagem e errar faz parte da vida.
  • Não respeita opinião ou quando a pessoa diz “não” para algo e tenta manipular com ameaças ou chantagens. Por exemplo: forçar o parceiro a ter relação sexual ou a fazer coisas que não se sente confortável;

As sequelas do abuso

Muito além do sofrimento momentâneo, as sequelas para quem passa por esse tipo de relacionamento podem ser severas e perdurarem por muitos anos.

relacionamento abusivo

“Comportamento abusivo no relacionamento nem sempre envolve violência tangível. É preciso fazer distinções entre violência/abuso físico e abuso emocional ou psicológico. O abuso emocional pode incluir agressão verbal, domínio ou controle sobre o outro, isolamento social do outro ou uso de dados íntimos o outo a fim de ridicularizar ou degradar o outro. Muitas vezes é um precursor do abuso físico. Existe uma alta correlação entre abuso físico e abuso emocional. Além disso, o abuso verbal no início de um relacionamento é um preditor de abuso sexual futuro”, explica o psiquiatra Dr. Bruno Mendonça Coêlho.

O profissional complementa ainda que aproximadamente metade da população americana relatou ter sofrido abuso emocional por um parceiro em algum momento a vida. “A vítima pode perder todo o seu sentido de si, às vezes sem uma única marca física. As feridas são invisíveis para os outros, escondidas na dúvida, na inutilidade e no ódio que a vítima sente. Com o tempo, as acusações, os abusos verbais, os xingamentos, as críticas e a ofensiva reduzem a percepção real de si mesma da vítima que ela não consegue mais se ver de maneira realista e passa a concordar com o agressor. Torna-se crítica de si mesma. A vítima fica então presa no relacionamento abusivo, acreditando que nunca será boa o suficiente para mais ninguém”, finaliza.

A psicóloga Gabrielle Luna, médica pós-graduada em psiquiatria da Clínica Penchel, comenta também que um dos grandes problemas dos relacionamentos abusivos é que, na maioria das vezes, o parceiro tem dificuldade de reconhecer que está passando por uma situação de abuso. Isso é bem comum, afinal os episódios “não saudáveis” começam de maneira sutil, com atitudes que aos poucos se agravam e fazem a vítima entender que aquele é um comportamento normal da pessoa.

“Salienta-se até mesmo a romantização de situações de ciúmes e somente após episódio de agressão física que os sinais de abuso começam a ser reconhecidos. É importante que o assunto seja difundido nas mídias, para que a pessoa que está passando por isso se identifique com as situações e se atente aos sinais dentro do relacionamento. Pessoa próximas ao perceberem que a vítima está passando por sinais de violência psicológica, podem ajuda-la, mostrando preocupação com a situação por meio de uma conversa aberta, apontar pontos importantes na relação e principalmente orientar que a mesma procure ajuda especializada com um psicólogo”, explica.

estupro marital

Como voltar a confiar em um parceiro

Voltar a se relacionar após um relacionamento tóxico é muito complicado. Muitas mulheres desenvolvem sérias sequelas e não conseguem mais dar uma chance ao romance É preciso que tudo seja feito com muita calma. “Usualmente algumas mulheres, especialmente aquelas com transtornos de carência e de dependência, não conseguem se desligar de seus companheiros violentos. A percepção dessa relação abusiva (que não irá mudar) pode demorar mesmo, o diálogo elucidativo auxilia a abreviação da espera”, explica o psicólogo e escritor Alexandre Baz.

O Dr. Bruno Mendonça Coêlho complementa ainda que, assim como ocorre no bullying, há um perfil comum aos agressores, mas também há características comuns às vítimas. É preciso identificar que características são essas se queremos evitar a repetição dessas situações.

“Um profissional (psicólogo e/ou psiquiatra) ajuda a identificar a maneira como o indivíduo pensa, age e processa as emoções. Assim, ajudará a modificar a maneira como ele pensa e age em sua vida. Isso, claro, influencia na forma como agem em seus relacionamentos”, esclarece.

Os amigos e familiares também tem um papel essencial no acolhimento à vítima, no auxílio à identificação do abuso e na recuperação futura. “Você pode ajudar alguém que está numa situação abusiva, não espere que ela perceba por conta própria. Nem sempre isso acontece. Ofereça ajuda mesmo que a pessoa não tenha a percepção do abuso, pois cada um leva um tempo para compreender a situação. Seja disponível para estar com ela, ou ajudar até financeiramente porque isso também dificulta a desvinculação da vitima da relação abusiva. Assumir uma posição acolhedora e sem julgamentos cria uma conexão de pertencimento e de importância na vitima”, conclui a Dra. Danielle Trabuco.

Especial Setembro Amarelo

Começou o Setembro Amarelo, uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio que se estende por todo o mês e é marcada por diversas ações, como palestras, passeatas, divulgação de vídeos e, o mais importante: debate e compartilhamento de informações. Criada em 2015 no Brasil pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), o CFM (Conselho Federal de Medicina) e a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), a campanha tem como proposta garantir que a causa tenha cada vez mais visibilidade no país.

E o problema a ser combatido é bem sério. Atualmente, 32 brasileiros se suicidam por dia. No mundo, os números assustam ainda mais: é computada uma morte a cada 40 segundos. Aproximadamente 1 milhão de pessoas se suicidam todos os anos. E esses são só os dados computados. Sabe-se que no total, se levarmos em conta os problemas de subnotificação, a estatística é bem maior. Além disso, os especialistas estimam que o total de tentativas supere o de suicídios em pelo menos dez vezes.

Mas como esperar que as pessoas que sofrem caladas busquem ajuda se não falarmos abertamente sobre os problemas que afetam a saúde mental de todos nós? É preciso que as pessoas se unam em torno dessa causa e é por isso que nós, do Segurança da Família, preparamos um especial de cinco matérias totalmente voltadas àsegurança mental.Fique atento às nossas publicações essa semana, compartilhe, converse com aqueles que estão perto de você e, caso precise, peça ajuda!