Violência no esporte revela realidade perigosa dentro e fora dos estádios
Mortes relacionadas ao esporte e ao futebol cresceram nos últimos anos no país

Esporte é paixão, emoção, suor, conquistas e aprendizados. Esporte é lazer, é reunião de família e amigos, é vibração. É assim que deveria ser, com a união e a empatia que movem esportistas e espectadores. Mas, no Brasil, onde a violência social ganha espaço e cresce em ritmo assustador, ela esbarra e permanece onde nem mesmo deveria passar por perto: a violência no esporte.
A insegurança segue em escalada e, nos últimos 10 anos, 553 mil pessoas foram vítimas da violência, uma média de 153 homicídios por dia, segundo a edição 2018 do Atlas da Violência. No país do futebol, o caos urbano e a violência no esporte refletem diretamente na principal modalidade que é considerada paixão nacional.
Em 2017, foram 11 assassinatos relacionados ao esporte – isso somente até julho, quase o mesmo registro do ano inteiro de 2016, quando foram registradas 13 mortes. O problema e o caos acontecem dentro e fora dos estádios.

Torcidas organizadas
As torcidas organizadas de determinados times têm histórico de violência no esporte dentro ou fora dos estádios. No entanto, a falta de segurança, os problemas e as mortes ligadas ao esporte não podem ser associados somente a elas.
Assim como em outros setores da sociedade, elas também incluem pessoas de má fé, mas isso não constitui a maioria daqueles que viajam o país com objetivo de apoiar o time do coração.
Torcida única – Em abril de 2016, o Ministério Público de São Paulo determinou que os clássicos paulistas (envolvendo jogos entre os principais clubes do estado: Santos, São Paulo, Palmeiras e Corinthians) deveriam ter torcedores apenas do time mandante da partida.
Na contramão da medida já ter sido adotada em outros estados, como Rio Grande do Sul, Alagoas e Bahia, as confusões entre torcedores e a violência no esporte seguem com ocorrências perigosas e memoráveis.
Somente em 2017, 500 torcedores foram presos ou afastados de estádios em São Paulo. Outros esforços são trabalhados, como cadastro de organizadas e punição aos clubes. Ainda assim, foram pelo menos 17 episódios de conflitos em 16 rodadas do Campeonato Brasileiro, incluindo mortes.
O Ministério Público de São Paulo defende a medida, alegando que a mudança aumentou o público (associado à presença das famílias, que se sentem mais seguras), diminuiu a demanda por policiais nos estádios e que os confrontos entre torcedores tiveram queda de pelo menos 50%.
Mas a diferença acontece dentro de campo, e ela é negativa. Com a torcida única, visitantes e até mesmo mandantes tiveram queda no desempenho durante essas partidas. A alegação é que um estádio que vibra mobiliza e motiva ainda mais os jogadores.
Outros esportes – A adoção da torcida única não é exclusividade do futebol. Ações similares já aconteceram também no basquete e no futebol feminino, ainda que não tendo impedido possibilidades de problemas e conflitos.
Em 2016, a FBERJ (Federação de Basquete do Estado do Rio de Janeiro) adotou torcida única para clássicos no Estadual da modalidade. Em algumas ocasiões, a Justiça chegou a determinar ginásio fechado e ausência total de público.
No caso do futebol feminino, por orientação do Juizado Criminal, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) seguiu o que já vinha sendo feito no masculino e excluiu o público visitante dos jogos entre Corinthians e Santos.

Racismo e bullying
A violência no esporte não chega somente aos estádios e às arenas esportivas. As redes sociais também se tornaram palco para agressões a outros torcedores, jogadores e esportistas de forma geral.
Bullying, ofensas, agressões verbais, casos de homofobia e racismo. São muitos os exemplos de casos que descaracterizam o conceito de grupo do esporte e diminuem o brilho de modalidades como o futebol.
Racismo – Jogadores e árbitros costumam ser as maiores vítimas de ofensas que podem evoluir a formas injúria racial. E isso vem das arquibancadas e do próprio campo.

A torcida rival utiliza esse tipo de violência no esporte para desestabilizar determinados jogadores. O resultado vai além disso: humilhação, queda de autoestima, sentimento de impunidade.
Uma das situações mais conhecidas neste contexto foi quando parte da torcida do Grêmio passou a gritar o xingamento de “macaco” para o goleiro Aranha, que então defendia o Santos, em partida da Copa do Brasil disputada pelos dois clubes, em 2014.
Em outro episódio envolvendo torcedores do Grêmio, foram colocadas bananas sobre o carro do árbitro Márcio Chagas. Com a aplicação da norma, o time teve pontos subtraídos.
Lei – O governo do Rio de Janeiro sancionou uma lei no estado que prevê multa de até R$ 155 mil para clubes que não tomarem providências em relação a atos racistas nos estádios, como a identificação dos agressores.
Em 2006, seguindo orientação da FIFA, competições nacionais passaram a adotar cláusulas em seu regulamento punindo clubes envolvidos em episódios de racismo com a perda de pontos.