Você sabe o que é o Setembro Amarelo? Criada em 2015 pelo CVV (Centro de Valorização à Vida), pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) e pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), a campanha tem a proposta de dar mais visibilidade à conscientização sobre a prevenção do suicídio. Ao longo dos últimos anos, escolas, universidades, entidades do setor público e privado e a população de forma geral se envolveram neste movimento que vai de norte a sul do Brasil.

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E conscientizar a população sobre o suicídio é uma questão de saúde pública. “Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 90% dos casos os suicídios são preveníeis por estarem associados a patologias de ordem mentais diagnosticáveis e tratáveis, principalmente a depressão. Ou seja, de cada dez casos de autoextermínio, nove podem ser evitados onde houver o diagnóstico preciso dessas patologias, o devido tratamento e a assistência das redes de cuidado e atenção. Saber reconhecer os sinais de alerta em si mesmo ou em alguém próximo a você pode ser o primeiro e mais importante passo”, explica a psicóloga Paula Negrão Chaves.

prevenção ao suicídio

Hoje, 32 brasileiros se suicidam diariamente. No mundo, ocorre uma morte a cada 40 segundos. Aproximadamente 1 milhão de pessoas se matam a cada ano. Se levarmos em conta que muitos casos não são contabilizados, pois existe subnotificação, podemos deduzir que os números são muito maiores. Além disso, os especialistas estimam que o total de tentativas supere o de suicídios em pelo menos dez vezes.

É um cenário grave, que necessita de atenção urgente, desde a infância. “Nunca houve um momento na história humana com tantas possibilidades de interação. Por outro, lado nunca houve um momento onde nos sentíssemos tão solitários. A fala reflexiva se encontra quase desaparecida e a fala informativa cada vez mais dominante, pensando nisso defendo e acredito que falar sobre o suicídio pode e deve ser educativo, deve ser algo construído com as nossas crianças e adolescentes, algo que ultrapassa os muros da escola”, comenta Dayane Souza, Psicóloga do Colégio Santa Teresinha.

Mas como buscar ajuda se muitas vezes a pessoa sequer sabe que pode receber apoio e que o que ela sente naquele momento é mais comum do que se divulga? Ao mesmo tempo, como é possível oferecer ajuda a um amigo ou familiar se também não sabemos identificar os sinais e muito menos temos familiaridade com a abordagem mais adequada?

prevenção ao suicídio

A psicóloga Marena Petra Ferreira Gonçalves explica que mesmo alguém que não se abre e que não fala tanto sobre o que está acontecendo apresenta sinais subjetivos que precisam de um olhar atento do outro: “Os familiares e pessoas próximas podem perceber indícios através de atitudes e comportamentos, como também falas que acabam escapando sobre a vontade de morrer, de desistir, de desaparecer e uma tristeza profunda que abate nas atividades diárias. Pode ocorrer isolamento, perda de apetite e dificuldades para dormir e certo descuido com ele próprio e com a própria vida”.

É fato que o suicídio é um fenômeno complexo, de múltiplas determinações, mas saber reconhecer os sinais de alerta é essencial. Ainda mais em nossa realidade moderna, onde estamos muito centrados em nossos próprios conflitos e sentimentos e muitas vezes acabamos por não prestar a devida atenção às mazelas do próximo.

Prevenção ao Suicídio

Quando falamos em “prevenção” ao suicídio, é preciso que se entenda que, assim como o próprio ato de tirar a vida em si, tudo é muito subjetivo. Não há uma fórmula mágica para evitar que as pessoas cheguem ao ato extremo, mas há sim formas de ajudar e orientar.

“O grande problema é que muitas vezes a pessoa com o impulso suicida procura ajuda de alguém próximo, tenta desabafar, e o que recebe de volta é julgamentos, conselhos, o ‘você deve fazer isso para ficar melhor’. Mas na verdade, só o que a pessoa precisa é de alguém que pratique a escuta ativa e empática. Que ouça tudo o que o outro tem para dizer sem qualquer tipo de julgamento”, explica Roberto Debski, médico clínico geral e psicólogo. O profissional acrescenta ainda que o ideal é também orientar o possível suicida para que ele procure ajuda médica.

Outro ponto importante, que precisa ser compreendido pela população, é que o suicida não “quer morrer”. Ele quer acabar com uma dor, um sofrimento, uma sensação de que não existe qualquer possibilidade de um futuro mais feliz. E que as pessoas ao lado devem mostrar que ele não está sozinho, mesmo após uma pequena melhora no quadro de saúde mental.

“Pode parecer que são covardes, mas na realidade é justamente o contrário. Na menor possibilidade de melhora da depressão, ele se suicida. Justamente porque é quando se sente forte para tal. Jamais deixe um potencial suicida abandonado. E nunca duvide de sua fala, quando ele disser que irá se suicidar, entenda que provavelmente é porque vai mesmo e está verbalizando isso a você”, complementa o psicólogo e escritor Alexandre Bez.

Tratamento

Depois que é identificado que alguém tem tendências suicidas, uma série de tratamentos são possíveis. Alexandre Bez enumera alguns deles:

1ª fase: Afastar todas as causas, independentemente de suas etiologias que incitaram o comportamento suicida. Esse contato, com o agente eliciador, tem que ser rompido.

2ª fase: Trazer soluções para os problemas, obtidas sempre com o profissional da saúde mental (psicólogo, psicanalista e psiquiatra), nas sessões individuais e em grupo, realizadas gradativamente e no tempo do paciente.

3ª fase: Traçar um “planejamento existencial”, visando alterar a vida pregressa do paciente, que foi justamente o gatilho psicológico de seu surto. Todas elas com auxílio da medicação e da terapia.

4ª fase: Basicamente, a conscientização, tratamento e prevenção.

5ª fase: Afaste o suicida da solidão e do isolamento, mantenha-o ocupado e engajado socialmente.

O profissional explica que a ideia é que a alta só se dê após a motivação e a vontade de viver estarem recuperadas.

Setembro Amarelo

Foi justamente para conscientizar a população sobre o tema e as formas de prevenção que o Setembro Amarelo foi criado. O objetivo é que possa ser um período em que o assunto é debatido com mais afinco, mas com toda a delicadeza e responsabilidade necessária.

“Ainda existe um certo preconceito para se falar sobre suicídio. Suicídio não é ‘contagioso’. Ninguém que não esteja predisposto a, irá cometer suicídio, só de ouvir falar nisso. A melhor forma de se prevenir é o diálogo, é a informação. O cuidado que devemos ter é de não expor detalhadamente a forma como o suicídio ocorreu (não dar ideias funcionais) e não supervalorizar a ação, nem banaliza-la. Devemos valorizar a vida daquele que partiu, o que foi interrompido, a dor dos familiares. Deixar de romantizar a ação e encarar como dor real”, diz Paula Negrão Chaves.

É preciso que as pessoas se unam em torno dessa causa e é por isso que nós, do Segurança da Família, preparamos um especial de cinco matérias totalmente voltadas à segurança mental. Fique atento às nossas publicações essa semana, compartilhe, converse com aqueles que estão perto de você e, caso precise, peça ajuda!