Falta de segurança nas universidades, o trauma em troca da aceitação
Instituições abafam trotes violentos e casos de racismo, homofobia e abuso sexual

Entrar na universidade é o sonho de muitos estudantes. Mas, muitas vezes esse sonho se torna um pesadelo. Trotes agressivos, homofobia, racismo e assédio sexual são alguns dos comportamentos abafados por muitas instituições e que denunciam uma realidade da falta de segurança das universidades.

Muitos casos não vêm à tona pela falta de relato das vítimas, que preferem manter o silêncio para evitar uma rotina de afastamento, desprezo e repressão dentro do ambiente acadêmico.

No mesmo viés, as grandes e renomadas universidades preferem preservar o prestígio de seus nomes como algo intocado a proteger seus alunos que passam por situações de agressões, humilhações e muita violência.

violência nas universidades

Trotes agressivos

Trotes violentos ou com cunho humilhante para os calouros acontecem em grande parte das universidades do país A violência nas universidades já começa junto com a aprovação no vestibular e o primeiro dia de aula. Proibido na maior parte das instituições do Brasil, ele continua acontecendo livremente de calouros contra veteranos, seja dentro ou fora dos espaços das faculdades.

Pinturas de rosto e corporais, corte de cabelo, despejo de toda natureza alimentos, ingestão exagerada de bebidas alcoólicas, pedido de dinheiro nos semáforos e muita humilhação. Essa é só a ponta do iceberg de como acontecem os trotes violentos, considerados um tipo de ritual de passagem.

Entre os casos de trotes agressivos, aqueles constantemente relembrados de forma negativa já envolveram exposição sexual, ferimentos sérios, coma alcoólico e até mesmo mortes.

Machismo e assédio sexual
A violência nas universidades reflete também os tipos que acontecem fora dela, como a violência contra a mulher. A agressão de gênero também já começa contra as calouras, quando elas são expostas quanto a seus corpos e tipos físicos nos eventos dos trotes.

estupro nas universidades

Comparadas, objetificadas e sexualizadas, elas são obrigadas a lidar com humilhações e com o machismo. Tudo em busca de aceitação e respeito dentro do novo ambiente acadêmico.

Mas e quando as mulheres também se calam em relação aos casos de assédio sexual? Professores, orientadores e todo tipo de autoridade nas universidades muitas vezes têm suas investidas contra estudantes acobertadas. A proteção dos atos cargos e a certeza da impunidade os movem para que esse tipo de crime continue acontecendo.

A pesquisa Violência contra a Mulher no Ambiente Universitário, realizada em 2015 pelo Instituto Avon em parceria com o Data Popular, revela que 25% das universitárias já foram xingadas, humilhadas ou agredidas quando negaram uma investida na universidade, em festas acadêmicas, competições e trotes.

Dos quase 2 mil universitários entrevistados à época do levantamento, 46% conhecem alunas que sofreram violência sexual, 28% das mulheres sofreram esse tipo de violência, das quais 11% sofreram essa tentativa de abuso quando estavam sob efeito de álcool.

Quando a sociedade é agressiva com a mulher, isso se traduz também com falta de segurança nas universidades e os poucos casos de estupro que se tornam de conhecimento do grande público.

Ações contra o assédio – Indo contra a maré da realidade universitária brasileira, a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), no interior de São Paulo, começa a implantar ações contra a violência sexual dentro do ambiente acadêmico.

O projeto está em andamento e tem como base um relatório que será feito ao ouvir universitários, grupos e coletivos. Além do trabalho contra o assédio, outras políticas de promoção da cidadania também serão trabalhados.

Racismo e homofobia
O ambiente acadêmico não é hostil apenas para mulheres e calouros, outras minorias vítimas de preconceito na sociedade também sofrem com os efeitos da violências nas universidades.

Racismo – A entrada na universidade é associada às boas oportunidades de estudo ao longo da vida escolar. Negros são minoria dentro do ambiente universitário e, muitas vezes, têm sua capacidade questionada. Além de atos de discriminação, humilhação e racismo.

Homofobia – A dominação de veteranos sobre calouros se traduz, também, em atitudes de rebaixamento e desprezo de minorias, como no caso dos estudantes LGBT, que enfrentam todo tipo de violência nas universidades.

Denuncie!
Ainda que se repita ao longo de décadas, a violência nas universidades jamais deve ser tratada como algo comum ou parte da vida acadêmica. Se você sofrer ou presenciar trotes violentos, assédio sexual, racismo ou homofobia nas instituições de ensino superior, denuncie!

Procure a coordenação do curso e os responsáveis na universidade para que providências internas sejam tomadas;
Vá até a delegacia mais próxima e faça um boletim de ocorrência. Se possível, reúna provas contra os agressores;
No caso de assédio sexual contra mulheres, também é possível denunciar pelo 180, que recebe relatos de violência contra a mulher;
Fale com o Disque Denúncia pelo 181;
Se preferir, ligue para o Disque 100, serviço telefônico de recebimento, encaminhamento e denúncias de violações de direitos humanos.