O bullying e o cyberbullying podem ser formas de uma violência silenciosa, que nem sempre chega ao conhecimento de pais, responsáveis ou mesmo dos educadores. E o ambiente das escolas do Brasil, no geral, não tem ajudado.

Segurança nas escolas

Um estudo feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado em junho, mostrou que as crianças brasileiras são duas vezes mais propensas a precisar lidar com o bullying do que a média geral dos estudantes de instituições de ensino em 48 outros países.

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A Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem 2018 (Talis), mostra que 28% dos diretores das escolas brasileiras no ensino fundamental apontaram a intimidação ou o bullying como um problema que ocorre semanal ou diariamente nos ambientes de ensino, enquanto 18% dos administradores das instituições de ensino médio dizem o mesmo.

O percentual supera as médias da América Latina (13%) e do mundo (14%). A pesquisa ouviu mais de 250 mil professores e diretores ao redor do globo. Se levarmos em conta somente os números do sistema público de ensino em nosso país, o problema é ainda maior. A estatística chega a 35% (ensino fundamental) e 23% (ensino médio).

Identificando o bullying

Mas será que é possível que pais, professores e responsáveis identifiquem que seus filhos são vítimas de bullying, mesmo que os pequenos não se abram sobre o que os aflige?

De acordo com o psicólogo e escritor Alexandre Bez, sim. “A mudança repentina de comportamento é o principal indicador da criança/adolescente estar sofrendo Bullying. Vale lembrar de que ele se caracteriza como uma ‘severa agressão psicológica’, completamente invasiva e desconcertante emocionalmente. A mudança de notas, a falta de interesse em estudar, a rejeição em ir à escola e a solidão aliada a um comportamento intrínseco já se configuram como sinal de alerta”, explica.

Outros sintomas também podem ser notados, como falta de apetite, dores de cabeça frequentes, dentre outros. Quando a situação acontece na escola, muitas vezes o jovem tende a arrumar “desculpas” para faltar, como enjoo e mal estar. Cabe ressaltar que o trauma psicológico é tão intenso, que essas “desculpas” não são mentirosas. Eles de fato estão com os sintomas relatados, só não conseguem entender que o motivador não é um vírus, mas sim a própria mente. É como se a mente enviasse para o corpo um sinal de alerta, que desestabiliza todo o funcionamento do organismo.

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Pais e colégios unidos

O que é importante ressaltar é que a prática do bullying é, muitas vezes, utilizada como uma ferramenta na busca de autoafirmação. “Por isso, é praticamente impossível erradicar a prática, mas é possível e necessário diminuir consideravelmente seus índices a partir de campanhas de prevenção e do desenvolvimento socioemocional dos estudantes. Isso deve acontecer e ser incentivado por parte dos pais ou cuidadores. Além disso, a escola deve estar sempre atenta e em um trabalho constante de acompanhamento dos alunos e famílias para evitar, tratar e prever casos de agressão física e moral na escola”, explica a Neuropsicóloga Tammy Marchiori.

Por mais que a pesquisa aponte que as escolas brasileiras estão longe de se verem “livres” do bullying, muitas instituições de ensino buscam formas de tentar amenizar o problema. E a escolha é sempre a disseminação de informação e a conscientização.

O Colégio Notre Dame, que fica na cidade de São Vicente, por exemplo, introduziu em sua grade pedagógica o Programa Líder em Mim, que desenvolve as habilidades sócio emocionais das crianças desde o Ensino Fundamental. A finalidade foi justamente oferecer o suporte que as crianças necessitam para superar traumas ou situações que as abalam psicologicamente, além de poder cuidar da saúde emocional daqueles que ainda não apresentavam qualquer tipo de problema.

“Quando o bullying apareceu pela primeira vez na televisão brasileira com esse nome, muitas pessoas – de diversas gerações – ironizaram a ‘problematização’ daquilo que era apenas uma implicância entre colegas de sala. Hoje já se sabe, ainda bem, que tanto as vítimas quanto os agressores podem sofrer por anos com as consequências psicológicas dessa ‘brincadeira’”, comenta Camila Micheletti, Diretora de Comunicação do Notre Dame.

A educadora aponta ainda que atualmente muitos pais se preocupam em checar quais projetos de combate ao bullying são desenvolvidos pelo colégio. “Esse avanço no pensamento da sociedade só foi possível graças à uma série de projetos de conscientização e campanhas na imprensa. Hoje o bullying é tratado com a seriedade que merece”, finaliza.

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As sequelas do Bullying

Caso percebam que os filhos passaram por algum tipo de situação traumática, os pais podem (e devem) procurar ajuda profissional. É preciso ter em mente que o bullying vai muito além de uma “provocação de criança”. Ele traz consequências sérias e que podem ser carregadas pela vítima durante toda a vida.

“Quem sofre bullying tem uma grave alteração na estima que tem de si mesmo. Isso pode não só intensificar a baixa autoestima, como aumentar a falta de confiança em si e nos outros. As dificuldades de relacionamento se acentuam e podem levar à apatia, além de acarretar problemas de aprendizagem”, explica a psicóloga e psicopedagoga Fernanda Negrão Chaves Caielli

A profissional acrescenta ainda que as consequências, em longo prazo, serão a falta de amigos, um conceito de si deficiente, insegurança e infelicidade. Já na fase adulta, poderão sofrer depressão, neurose, histeria, dificuldades de fazer escolhas e uma tendência a se colocar como uma vítima em todos os relacionamentos.

“Os grandes perigos de vivenciar cotidianamente essas situações são a angústia e a depressão. Algumas crianças ou adolescentes, no auge de sua angústia, tentam ou cometem suicídio. Certamente porque a carga é mais pesada do que eles conseguem carregar. Matar-se parece ser um caminho para se libertar desse flagelo”, complementa Fernanda.

Discutir esse tema com crianças e adolescentes, tenham elas vivenciado ou não o bullying, é fundamental. Isso porque o cuidado com a saúde mental não deve ser tomado somente em casos de emergência. É preciso começar a entender que um tratamento preventivo pode salvar vidas.

Especial Setembro Amarelo

Começou o Setembro Amarelo, uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio que se estende por todo o mês e é marcada por diversas ações, como palestras, passeatas, divulgação de vídeos e, o mais importante: debate e compartilhamento de informações. Criada em 2015 no Brasil pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), o CFM (Conselho Federal de Medicina) e a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), a campanha tem como proposta garantir que a causa tenha cada vez mais visibilidade no país.

E o problema a ser combatido é bem sério. Atualmente, 32 brasileiros se suicidam por dia. No mundo, os números assustam ainda mais: é computada uma morte a cada 40 segundos. Aproximadamente 1 milhão de pessoas se suicidam todos os anos. E esses são só os dados computados. Sabe-se que no total, se levarmos em conta os problemas de subnotificação, a estatística é bem maior. Além disso, os especialistas estimam que o total de tentativas supere o de suicídios em pelo menos dez vezes.

Mas como esperar que as pessoas que sofrem caladas busquem ajuda se não falarmos abertamente sobre os problemas que afetam a saúde mental de todos nós? É preciso que as pessoas se unam em torno dessa causa e é por isso que nós, do Segurança da Família, preparamos um especial de cinco matérias totalmente voltadas àsegurança mental.Fique atento às nossas publicações essa semana, compartilhe, converse com aqueles que estão perto de você e, caso precise, peça ajuda!