Enquanto o mundo luta para diminuir a violência contra as minorias, o assassinato do estudante Diego Vieira Machado (29) em julho deste ano mostra que nas universidades brasileiras essa igualdade está longe de se tornar realidade. Diego, que era negro, gay e bolsista, foi encontrado no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nu da cintura para baixo, sem documentos, com sinais de espancamento e um golpe na cabeça, o jovem foi deixado às margens da Baía da Guanabara.A violência brutal cometida contra Diego somada ao perfil do estudante, pobre, negro e homossexual, abriu debate sobre o preconceito e trouxe à tona a falta de segurança que ameaça os estudantes diariamente dentro das universidades federais brasileiras.

Diego Vieira Machado, de 29 anos, era negro, homossexual e pobre. Foi encontrado morto no campus da UFRJ. REPRODUÇÃO/FACEBOOK
A pesquisa ouviu 1.823 universitários de ambos os sexos (60% mulheres e 40% homens) em cursos de graduação e pós-graduação de todo o Brasil. O estudo foi feito online, em grupos de discussão com alunos, por meio da coleta de depoimentos e por entrevistas especialistas.Considerando diferentes tipos de violência, que vão da agressão física e do estupro à coerção (beijar veteranos ou ingerir bebidas alcoólicas, por exemplo), desqualificação intelectual de alunas ou cantadas ofensivas, a pesquisa apontou que no ambiente universitário diversos comportamentos abusivos ainda não são reconhecidos pelos alunos como violentos. 35% dos entrevistados, por exemplo, afirmou não enxergar violência em coagir uma mulher a participar de atividades degradantes como desfiles e leilões, e 27% deles não consideram abuso se a garota estiver alcoolizada. Sim, em um ambiente projetado para disseminação do conhecimento a máxima “se bebeu, aceitou o risco” ainda é tida como aceitável. Até mesmo pelas próprias mulheres!A falta de entendimento delas sobre o que é ou não um comportamento abusivo, inclusive, é um dos dados mais assustadores. Durante a primeira etapa do estudo, apenas 10% disseram ter sofrido algum tipo de violência de gênero na universidade. Isso seria uma boa notícia, e o número não tivesse subido para 67% depois que as entrevistadas foram confrontadas com uma lista de comportamentos abusivos, que incluem além de agressões mais evidentes como estupro, a violência psicológica e moral, tal qual ser colocada em rankings de beleza ou sexuais ou ser humilhada com piadas degradantes e sexistas feitas por colegas.
Desejo de mudançaCom o objetivo de acolher essas meninas dentro da universidade, a professora e pesquisadora Ana Flávia D’Oliveira se uniu a outras docentes da USP para criar a rede Não Cala, que também busca alterar o regimento da instituição possibilitando a punição dos culpados pela universidade e mudar a cultura acadêmica diante dos assédios, revertendo o cenário no qual instituições tentam abafar os casos de violência sexual para não manchar sua imagem, deixando agressores impunes.Além de apresentar as experiências vividas pelos alunos, a pesquisa mostrou também o desejo de que as universidades tomem uma atitude: 88% dos rapazes e 95% das garotas acreditam que a faculdade deve criar meios de punir os responsáveis por cometer violência contra a mulher na instituição, e 64% dos alunos e 78% das alunas concordam que o tema deveria ser incluído nas aulas.
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