O machismo mata mulheres todos os dias em todo o mundo. Quando não encerra a vida de suas vítimas de forma definitiva, ele é também responsável por traumas emocionais e psicológicos que muitas vezes são carregados por toda a vida. Os diferentes tipos de machismo estão intrínsecos na sociedade de maneira que, muitas vezes, passa despercebido – exceto por quem lida com ele.

No Brasil, leis como a Maria da Penha e a do Feminicídio nasceram da necessidade de combater e penalizar o sofrimento físico que milhares de mulheres sofrem diariamente. Mas e quando a agressão está além da dor física e da tortura psicológica? Neste post você vai entender:

> Saiba quais são os diferentes tipos de machismo;

> Conheça o caso de mulheres que lidam com marcas que vão além da agressão;

> Entenda como sinalizar posturas machistas.

tipos de machismo

Comportamentos machistas agem como uma forma de violência psicológica e pode causar traumas às vítimas

 

Tipos de machismo: o sofrimento silencioso

Nem sempre fácil de identificar, já que a grande maioria das mulheres lida com isso por praticamente toda a vida, os tipos de machismo se manifestam das mais diferentes formas, até quando tudo parece estar intrínseco em meio a relações de amizade, parceria e relacionamento amoroso.

A violência social desse tipo de situação envolve constrangimento, humilhação, dúvidas em relação à capacidade e traumas severos. Você vai entender tudo sobre os tipos mais comuns:

Manterrupting – A tradução significa, literalmente, “homens que interrompem” e se refere aos homens que fazem intervenções em meio à fala de mulheres, impedindo que terminem a frase ou concluam uma linha de pensamento. Essa situação é bastante comum em palestras ou discursos com público misto.

Mansplaining – Uma das formas mais comuns entre os tipos de machismo, o termo, que quer dizer “homens que explicam”, faz referência ao tempo que eles dedicam a explicar algo óbvio a uma mulher, de maneira didática, como se ela fosse incapaz de entender.

Geralmente está associada às ações de manterrupting, onde o homem interfere a fala de uma mulher para demonstrar que sabe mais sobre determinado assunto do que ela, mesmo nos casos em que a mulher é uma especialista naquilo que está dizendo.

tipos de machismo

Bropriating – É a junção dos termos “brother” (irmão, mano, amigo) e “appropriating” (apropriação). Muito comum em reuniões e no ambiente corporativo de forma geral, acontece quando um homem se apropria das ideias de uma mulher e passa a utilizá-las como suas, levando os créditos pelo trabalho.

Esse tipo de situação é considerada um dos fatores para que o número de mulheres em cargos de liderança seja bem menor em comparação ao sexo masculino.

Gaslighting – Deriva do termo inglês “gaslight”, a luz inconstante do candeeiro a gás. Uma das formas mais abusivas dentre os tipos de machismo, já que funciona como uma intensa violência psicológica.

Nesse contexto, o homem age para parecer que a mulher enlouqueceu ou está exagerando quando está originalmente certa. A situação faz com que ela duvide da própria capacidade de percepção, memória e sanidade.

Algumas frases como “você está louca”, “está de TPM para ficar assim?”, “você está exagerando” ou “pare de surtar” são bastante usadas pelos agressores neste contexto.

 

Elas passaram por isso

Os diferentes tipos de machismo atingem mulheres independentemente de suas profissões, origens ou classes sociais. Conversamos com algumas que foram vítimas dessa violência e você vai entender ainda mais sobre a dor causada em ações que, para muitos, podem ser consideradas cotidianas.

Engenheira ambiental com pós graduação, mestrado e uma série de outros cursos que enriquecem ainda mais seu currículo, Amanda Jardim, de 27 anos, trabalha em uma grande fábrica do setor alimentício em Extrema, Minas Gerais.

Hoje, ela lidera uma equipe, mas demorou a receber o crédito merecido, já que constantemente tem sua capacidade questionada e sente a pressão de precisar provar o seu valor.

“A fábrica em si já é um ambiente mais machista, ainda que 80% da mão de obra seja essencialmente feminina. Quando você sobe de cargo, a representatividade é menor. De 12 gerentes, só duas são mulheres. Todos os dias preciso respirar fundo e lidar com bom humor outras pessoas tentando me ensinar o meu trabalho”.

Além do desrespeito e das várias manifestações de mansplaining, Amanda também já passou por várias situações de bropriating.

“Já passei muito por isso com o meu chefe. Ele pega muitas das minhas ideias e vende para a diretoria como sendo dele. Eu relevo tentando pensar pelo bem das nossa área, mas é muito difícil viver com essa apropriação de ideias”.

A violência psicológica parece se repetir ainda mais com mulheres que lidam com cargos voltados ao conhecimento, à pesquisa e à intelectualidade, já que constantemente precisam provar sua capacidade em meio a outros homens.

Situação parecida com a de Amanda viveu a geneticista Juliana Sobral. Em meio a uma roda de amigos, teve sua competência questionada enquanto profissional.

“Estávamos falando sobre o DNA de gêmeos idênticos e crimes que foram arquivados pela justiça. Esse menino que estava em meio aos meus amigos começou a debater comigo querendo provar que eu estava errada levando em consideração um documentário que ele tinha visto”.

Como Juliana explicou como funcionava, diferente do que o rapaz queria propor, ele questionou a formação da geneticista e insistiu em confrontá-la, dizendo que a explicação do Google era melhor e insinuando sua falta de conhecimento.

tipos de machismo

Luana Andrade lida com os tipos de machismo típicos de uma mulher que é apaixonada por futebol e esportes de uma maneira geral, um ambiente ainda bastante dominado pelos homens. Profissional de educação física, ela ingressou em uma especialização em marketing esportivo e teve que lidar, mais uma vez, com o mansplaining.

“Conforme o professor ia explicando a matéria e discutindo sobre futebol, ele interrompia e perguntava se eu estava entendendo. Um dia, me aborreci, levantei e disse: ‘não é porque sou mulher que entendo menos de futebol do que qualquer um aqui, muito pelo contrário, eu respiro isso e entendo muito mais. Vamos discutir de igual para igual’”.

Mais tarde, disputando uma vaga nessa área em uma agência de São Paulo, cuja exigência era gostar e entender de futebol, Luana sentiu a diferença no tratamento e na abordagem de seu entrevistador.

“Quando eu cheguei para a seleção, as perguntas que foram feitas para mim eram diferentes das feitas para os outros candidatos, homens: queriam saber se eu era casada, se tinha filhos, como seria minha disponibilidade para ver os jogos e se eu ia entender a piadinha sobre a lei do impedimento”.

E as relações de violência psicológica causadas pelo machismo vão além dos ambientes de trabalho ou de segmentações consideradas como “ambientes masculinos”. Luana viveu situações de manterrupting e gaslighting também em um antigo relacionamento amoroso.

“Eu não podia emitir minha opinião, não importava qual fosse o assunto. Ele me cortava, me interrompia e dizia que eu estava errada. Ele me falava sempre que eu não deveria ficar me manifestando, principalmente se estivesse com outros homens em volta”.

 

Como evitar esses tipos de machismo?

Se você é homem, mudar alguns comportamentos pode evitar que você tenha uma atitude de violência psicológica contra outras mulheres. Se você é mulher, também pode sinalizar para os homens próximos a você que determinadas posturas causam traumas, sofrimentos e um verdadeiro desrespeito, contra o qual milhões de mulheres vêm lutando ao longo da história.

  • Respeito sempre, em primeiro lugar, independentemente de gênero;
  • Quando uma mulher estiver falando, ouça seu ponto de vista, espere sua vez e não a interrompa;
  • Evite segregar assuntos de homens X assuntos de mulheres. Dessa forma, você evita explicar a uma mulher algo que seja óbvio a ela;
  • Dê os créditos às ideias e projetos de mulheres, seja no ambiente corporativo ou pessoal;
  • Deixe de lado os pensamentos e frases que rebaixam a sanidade e a capacidade intelectual de uma mulher;
  • Evite tratamentos diferentes entre homens e mulheres;
  • Não seja cúmplice de atitudes machistas;
  • Denuncie todo tipo de violência, inclusive a psicológica, contra mulheres.

 

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