É provável que alguém que você já tenha ouvido falar, um amigo de um amigo, um conhecido ou mesmo um familiar já tenha tirado a própria vida como uma atitude desesperada para eliminar a própria dor. Cada dia mais, novos casos surgem e ele se alastra como uma epidemia silenciosa. Por isso é fundamental falar sobre a prevenção ao suicídio.

Mais de 11 mil pessoas cometem suicídio todos os anos no Brasil. Por dia, 30 pessoas conseguem acabar com as próprias vidas. Isso sem contar as tentativas, geralmente subnotificadas pelo sistema de saúde – dada a difícil identificação ou nem sempre menção sobre o fato.

prevenção ao suicídio

De acordo com o primeiro boletim epidemiológico sobre suicídio divulgado pelo Ministério da Saúde, entre 2011 e 2016, 62.804 pessoas cometeram suicídio. Desses casos, 79% foram homens e outros 21%, mulheres. Nesse período, foram 48.204 casos de tentativas notificadas, sendo o maior índice entre as mulheres.

Em um período de cinco anos, entre aqueles que conseguiram ou não executar suas tentativas, mais de 110 mil vidas deram ouvidos às ideias suicidas. A situação de epidemia, que já mata mais que o HIV em todo o mundo levanta a discussão que trouxemos em um post completo aqui no VS: é preciso falar sobre a prevenção ao suicídio.

> Público mais afetado e perfil das vítimas de suicídio;

> Prevenção ao suicídio e tratamento para pessoas em situação de risco;

> Formas de apoio: saiba como buscar ajuda;

> Recuperação: conheça a história de sobreviventes do suicídio.

Perfil das vítimas

O suicídio é a quarta maior causa de morte de jovens entre 15 e 29 anos. No entanto, a prevenção ao suicídio inspira ainda mais cuidados na população idosa, proporcionalmente o grupo mais afetado.

Entre pessoas com mais de 70 anos, a taxa de mortalidade por suicídio é de 8,9 para cada 100 mil habitantes. No caso dos jovens, esse índice é de 6,8.

Povos indígenas são ainda os mais vulneráveis. Entre brancos, a taxa de suicídio é de 5,9 para cada 100 mil habitantes, enquanto no caso de índios esse número pulou para 15,2, entre os anos de 2011 e 2015. Entre eles, as crianças entre 10 e 19 anos representam 45% das ocorrências.

A discriminação, o preconceito e o choque entre dois mundos diferentes é uma das principais motivações deste grupo. No caso dos idosos, os suicídios costumam ter associação ao abandono da família na terceira idade.

Prevenção ao suicídio e tratamento

Uma das perguntas que mais inquietam a mente de alguém próximo a uma pessoa que cometeu ou tentou o suicídio é: Por quê? O que leva uma pessoa a cometer suicídio?

Essa pergunta, no entanto, não tem uma resposta definitiva ou um motivo que justifique o ato ou a tentativa. Para a psicóloga Gisela Monteiro, o pensamento suicida tem infinitas variantes, como questões subjetivas, pessoais, sociais, aspectos culturais ou mesmo emocionais, como no caso das doenças mentais, muitas vezes não diagnosticadas.

“O suicídio é uma medida desesperada para encerrar o sofrimento. A pessoa acredita que a dor chegará ao fim acabando com a própria vida”.

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Para Gisela, o aumento de casos entre jovens na faixa etária entre 19 e 24 anos também tem relação direta com o aumento da depressão, considerada por ela e outros especialistas como a doença do milênio.

“Muitos pais têm relações condescendentes com seus filhos e não treinam os jovens para que saibam enfrentar a adversidade. O resultado é um excesso de proteção e cuidado e pouco preparo. Quando as adversidades chegam, tudo toma uma outra proporção e alguns recorrem ao suicídio, que costuma ser uma última medida na tentativa de acabar com o sofrimento”.

Tratamento – A depressão e outras doenças mentais podem estar diretamente associadas aos casos de suicídio. No entanto, é possível tratar e recuperar pacientes com esses quadros que já tiveram pensamentos suicidas.

Acompanhamento com terapia, medicação e apoio familiar são fundamentais, tanto na prevenção do suicídio (para aqueles que demonstram esse tipo de intenção), quanto para recuperar aqueles que já tentaram contra suas próprias vidas.

“Na saúde mental, cada caso é um caso, mas a qualidade de vida e as relações afetivas – sejam elas sociais, familiares ou amorosas – são fundamentais para protegê-la”.

Setembro Amarelo – “Falar é a melhor solução”. Esse é um dos motes da campanha Setembro Amarelo, que todos os anos traz à tona a necessidade de conscientizar e alertar sobre a realidade do suicídio no Brasil e a possibilidade de prevenir novos casos.

A ação ocorre desde setembro de 2015 e trabalha com identificação em locais públicos e privados, conversas sobre o assunto e a divulgação da pauta de prevenção ao suicídio na imprensa.

Como buscar ajuda?

É fundamental o apoio de um psiquiatra e de um psicólogo para que o tratamento seja feito com medicação e acompanhamento da saúde mental, mas reuniões, conversas ou mesmo um grito de socorro podem ajudar na prevenção ao suicídio.

Voluntário no CVV (Centro de Valorização da Vida) há 35 anos, Renato Caetano acredita que a informação é um dos principais fatores para prevenir novos casos. Para ele, o aumento de ocorrências entre jovens está diretamente ligada à intensidade de sentimentos e cobrança rápida nas escolhas no mundo atual.

“Muitas pessoas se isolam e têm dificuldade de entender a diferença entre se sentir sozinho e estar, de fato, solitário ou abandonado”.

 

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Sentir-se momentaneamente sozinho é diferente de estar solitário ou abandonado

Trabalho do CVV – Para Caetano, muitas das pessoas não se sentem ouvidas. E é exatamente esse o trabalho que o CVV faz com atendimentos via chat, e-mail e, principalmente, por telefone.

A instituição realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio atendendo voluntária e gratuitamente 24 horas por dia, todos os dias da semana. O atendimento pelo número 188 chega passa a ter cobertura em todo o Brasil a partir dos próximos meses.

Em 2016, a média foi de um milhão de contatos. Em 2017, o número de atendimentos dobrou e ultrapassou a marca dos dois milhões.

ABRATA – A Abrata (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos) existe há 19 anos com o objetivo de psicoeducar, informar e apoiar aqueles que passam por transtornos afetivos, como a depressão.

Com palestras de psiquiatras, grupos de apoio mútuo, suporte pelas redes sociais, blog e telefone, o objetivo é proporcionar bem estar e qualidade de vida a essas pessoas.

Sobreviventes do suicídio

Ricardo Esteves é voluntário da Abrata há 10 anos e, atualmente, coordena o núcleo de Santos, no litoral de São Paulo, da organização.

Esteves se aproximou da instituição quando ele mesmo precisou de ajuda. Aos 19 anos, teve dois episódios de ideações e tentativas de suicídio. Mas o tratamento só começou 14 anos mais tarde, aos 33, quando os pensamentos suicidas ganharam espaço novamente.

Com o acompanhamento de psiquiatras, medicação, terapia e o apoio da Abrata, hoje ele se sente recuperado.

“Considero que nasci de novo. Isso mudou minha vida e minhas perspectivas em relação a tudo que se trata de questões afetivas e doenças psiquiátricas. Quando você coloca para fora, percebe que outras pessoas também sofrem”.

O voluntário destaca ainda a importância do tratamento para a estabilidade da pessoa com pensamentos suicidas. É fundamental que ela entenda que tirar a própria vida não é a solução do problema.

“Tantas enfermidades são tratadas com remédios, por que há tanto preconceito e estigma quando se trata de saúde mental?”.

Cura da depressão – Ana Maria Saad se define como suicida sobrevivente em seu site pessoal. Para Ricardo Esteves, ela é uma grande inspiração para quem sofre com transtornos afetivos como a depressão. De forma descontraída em suas redes sociais e também pelo Youtube, ela fala sobre mudanças de comportamento para superar a depressão e a ansiedade.

No vídeo abaixo, você vê a participação de Ana Maria em 2012 no TED, evento que promove uma série de conferências realizadas na Europa, na Ásia e na Américas para destacar ideias que merecem ser disseminadas.

 

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