Mais de 17 mil moradores de rua foram vítimas de violência de 2015 a 2017, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde na última semana. O número leva em conta os casos em que a motivação principal do ato violento era o fato de a pessoa estar em situação de rua.

Como se a rotina de quem vive nas ruas não fosse dura o bastante, as agressões constantes ainda são uma preocupação que nunca acaba, principalmente para os mais jovens. 38% dos casos registrados tiveram como vítimas pessoas de15 a 24 anos, a maior parte desse grupo, composta por negros. As mulheres são as principais vítimas: 50,8% dos casos e 49,2% são homens.

A ferramenta usada para contabilizar os casos foi o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), que relaciona os dados do Sistema Único de Saúde (SUS) para notificar a condição de pacientes vítimas de violência de diversos tipos.

Tipo de violência

Em 92% dos casos a violência foi física e cometida por pessoas desconhecidas(37%), porém foram computados também os dados de agressões cometidas por amigos e conhecidos (33%), familiares (6%) e parceiros (5%). Em 19% dos casos notificados, a agressão ocorreu mais de uma vez.

O número grande de violências cometidas por desconhecidos revela um grande problema da sociedade. Na grande maioria dos casos, as pessoas em situação de rua estão sendo agredidas somente por estarem nessa condição.

Agressões autoprovocadas

Um dado importante que foi levantado durante a análise foi o número de lesões autoprovocadas. Aproximadamente 7% das notificações se enquadram nessa categoria. A violência autoprovocada inclui autoagressões, como mutilações, e tentativas de suicídio.

Uma provável justificativa para isso é o próprio estresse proveniente da condição. São pessoas sem casa, que precisam batalhar diariamente para se alimentar, independente de frio ou calor, expostas a constantes fatores de risco. São as condições “perfeitas” para o desenvolvimento de transtornos psíquicos desencadeados por excesso de sofrimento.

Possíveis soluções

O estudo aponta ainda estratégias que possam diminuir esse quadro tão grande de violência contra as pessoas em situação de rua. Uma das principais recomendações do relatório é apoiar o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a realização de um novo recenseamento da população em situação de rua no Brasil, tendo em vista que os dados mais recentes datam de 2015.

Além disso é preciso também investir em especializações para os profissionais do SUS, permitindo que eles possam atender com mais assertividade essa população e se desprendam de preconceitos e pré julgamentos. Assim é possível identificar com mais rapidez as pessoas que precisam ser encaminhadas para programas de auxilio do governo, além de poder detectar os problemas psíquicos decorrentes de um vida em situação de rua.