Você sabe o que é gordofobia? Ainda que o termo seja relativamente novo, é bem provável que você conheça alguém que já foi vítima desse tipo de violência. A ‘aversão a pessoas gordas’ vai muito além de xingamentos, bullying e exposição dessas pessoas, ela se manifesta também em ambientes como o serviço público e no mercado de trabalho.
Uma brincadeira de mau gosto, um comentário sobre o tamanho das roupas e as dificuldades no dia a dia são apenas a ponta de um iceberg profundo de atos de intolerância e desrespeito a quem não mantém um corpo considerado padrão e ideal pela sociedade.
A gordofobia está em toda a parte: nas ruas, nas vitrines, nas músicas e, principalmente, nas pessoas. É preciso falar sobre ela e sobre a violência psicológica que esse tipo agressão causa a milhões de pessoas em todo o mundo. Por isso, o VS preparou um material completo para que você entenda:
> A valorização de corpos considerados ‘perfeitos’ e a diferença entre pressão estética e gordofobia;
> Acessibilidade, serviços públicos e mercado de trabalho para pessoas consideradas acima do peso;
> Gordofobia e moda: autoestima, aceitação e pressão social;
> A realidade de quem sofre esse tipo de preconceito;
> É possível denunciar o desrespeito.
Corpos perfeitos, pressão estética e gordofobia
É tempo de mudança, de respeito às diferenças e de autoaceitação. Embora as redes sociais contribuam para a disseminação de ideias diferentes e tolerância de modo geral, ela também pode ser uma arma de violência, bullying e agressão àqueles que não se encaixam em um padrão socialmente aceito.
Roupas em tamanhos pequenos nas vitrines, modelos extremamente magras nas passarelas, musas fitness por todos os cantos da internet, receitas para perder gordura, novas séries de exercícios para perder um determinado número de quilos em um período.
A época que prega aceitação e respeito também é um tempo de que imagens e mensagens tidas como verdades absolutas são passadas constantemente como conteúdos que devem ser consumidos.
Se, para uns, isso pode ser motivador, para outros o resultado é a insegurança e o medo de estar longe de um padrão tão almejado pela sociedade de maneira geral.
Quase todas as pessoas sofrem com a pressão estética: estar bem vestido, com o cabelo adequado, ter uma beleza destacada, ser bem visto. No entanto, a gordofobia vai além: é cruel, rebaixa e muitas vezes incapacita suas vítimas em diferentes momentos.
Estar um pouco acima do peso não é sinônimo de ser vítima da gordofobia. Ela acontece quando a pessoa gorda é alvo de aversão, desrespeito e intolerância pura e simplesmente por sua condição de ter quilos “a mais”.
Sociedade gordofóbica
A gordofobia muitas vezes se manifesta como uma forma de preocupação com a saúde da vítima. As notícias que associam obesidade e doença são o pano de fundo utilizado por muitas pessoas intolerantes.
Além de atitudes discriminatórias, os próprios serviços e locais públicos se mostram gordofóbicos quando não proporcionam cadeiras e espaços para pessoas maiores, acessibilidade facilitada para quem está acima do peso e, nem mesmo o básico: roupas para pessoas de todos os tamanhos.
Mercado de trabalho – oportunidades de emprego e mudanças na carreira podem ser ainda algumas das mais cruéis situações de gordofobia. Assim como em outros casos de preconceito e intolerância, muitas pessoas deixam de ser contratadas apenas porque são gordas.
Moda e gordofobia
A moda é uma das grandes opressoras na busca pelo corpo perfeito e pela padronização, no entanto, o segmento plus size tem conquistado seu espaço e é um mercado que segue em crescimento, mesmo nos anos mais tímidos. Segundo dados do IEMI – Inteligência de mercado, em 2016, a produção de vestuário plus size cresceu cerca de 3% em relação à produção geral de vestuário adulto.
Jornalista e empresária, Karina Carneiro tem uma loja especializada em tamanhos grandes que chegam até o número 70. O dia a dia no comércio a ensinou sobre gordofobia ainda mais do que ela sentiu na pele desde a infância.
“Abri a loja pensando em mim como consumidora. Sempre fui gorda e sempre tive dificuldade de encontrar roupas do meu tamanho. Quem está acima do peso acaba optando por algo que cabe, não o que gosta, porque não encontra do seu número. Se você não trabalha sua cabeça, isso vai minando sua autoestima”.
O apoio familiar, o respeito e a defesa dos amigos sempre contribuíram para que ela se sentisse bem resolvida em relação ao próprio corpo. Por outro lado, essa nem sempre é uma realidade que encontra entre seus clientes.
“Vejo a própria família agindo com preconceito ou ditando regras que deixam as pessoas ainda mais inseguras. Falam que não podem usar roupas listradas, blusas de alça que mostram o braço gordo. Quem disse isso? A pessoa é gorda, por que o braço dela não seria? O importante é que ela se sinta bem e não tenha tabus sobre isso”.
Vítimas do preconceito
Mesmo com boa autoestima e bem resolvida, Karina também já foi alvo de gordofobia e preconceito. Para ela, uma das chaves para que a intolerância acabe é que a vítima se imponha diante de potenciais agressores.
“Na escola, eu cheguei a sofrer bullying e, quando alguém falava algo para mim, eu retrucava. Meus amigos já me defenderam em locais públicos também. Acontece muito de ouvir comentários maldosos, deboche e eu faço o inesperado: respondo e questiono. Já tiraram foto minha e me ridicularizaram em uma rede social. Entrei em contato com a pessoa e fiz com que ela se retratasse porque ela nem mesmo me conhecia. Ela ficou chocada e nem sabia como se desculpar. A gordofobia acontece em todo o lugar, mas quando você quebra essa barreira e se afasta de pessoas tóxicas, tudo fica mais fácil”.
Para a jornalista e empresária, existem níveis de preconceito que só pioram de acordo com o tamanho de cada pessoa.
“Tem um gordo que é mais aceito pela sociedade, aquele que veste 50 ou 52. Quando você é maior que isso, as pessoas julgam. Ser magro ou ser gordo não define ninguém, o que define é a pessoa que você é, quem escolhe ser – seja uma pessoa feliz ou amargurada. Se as pessoas vão julgar, que julguem por quem você é, não pela sua aparência”.
Denuncie
A gordofobia é um crime de desrespeito e injúria e seus autores devem ser denunciados. Saiba como você agir para que os culpados sejam penalizados:
- Ministério dos Direitos Humanos: Disque 100;
- Disque Denúncia: 181;
- Polícia Militar: 190;
- Registre um boletim de ocorrência na delegacia mais próxima.
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