No interior do Brasil, principalmente em estados das regiões norte e nordeste, o conflito por terras marca a luta pela moradia e o direito à propriedade. Grupos indígenas, quilombolas e movimentos sem-terra disputam áreas rurais com fazendeiros, madeireiros, agentes do agronegócio e até mesmo grileiros.

Em 2017, de acordo com relatório da CPT (Comissão Pastoral da Terra), a violência no campo atingiu o maior número de assassinatos desde 2003, registrando 70 mortes, um número 15% maior em relação ao ano anterior.

Somente nos primeiros meses do ano passado, entre janeiro e maio, foram 37 assassinatos, recorde registrado desde 2008. Em 2016, 30 pessoas foram mortas no período em áreas indígenas, quilombolas ou territórios de disputa por liderança entre sem-terra e fazendeiros.

A CPT passou a registrar casos de conflito por terras em 1985 e, desde então, foram 1.904 vítimas nas tensões de terra. Das 1.438 ocorrências do tipo, somente 113 foram julgadas, cerca de 8%.

conflito por terras

A disputa por áreas rurais gera violência no campo e mortes de dezenas de pessoas

Neste post você vai entender melhor a situação de violência no campo:

> Conflito por terras: áreas e estados mais perigosos;

> A situação do Pará em meio às disputas;

> A realidade de grupos indígenas e quilombolas na luta por terra.

 

As áreas rurais onde ocorrem mais mortes

Em 2017, o ranking de estados com mais assassinatos em razão de conflito por terras foi: Pará (21), Rondônia (17), Bahia (10), Mato Grosso (9), Maranhão (5), Amazonas (3), Minas Gerais (2), Rio Grande do Sul (2) e Alagoas (1).

De acordo com dados da CPT de 1985 a 2016, o Pará concentrava 30% das mortes nesse contexto. A região é seguida pelo Maranhão, com 164 mortes, e pelo Mato Grosso, com 131 homicídios.

Além dos estados e regiões de maior risco para a violência no campo, outro fator que chama atenção é que das 70 mortes que ocorreram no ano passado, 28 foram resultados de chacinas nessas áreas.

 

Pará lidera ranking

Em 2017, o estado foi líder no ranking de homicídios em ocorrências de conflito por terras, com 21 mortes.

O estado do Pará de forma geral, especialmente a região sul e sudeste do estado, que compreende Marabá, Pau D’Arco e Redenção, são marcados por episódios de violência contra trabalhadores rurais.

No ano passado, o estado foi palco de uma chacina: policiais civis e militares entraram na Fazenda Santa Lúcia, em Redenção, para cumprir mandados de prisão no âmbito da apuração da morte de um vigilante da propriedade. Na ocorrência dez trabalhadores rurais foram mortos e, segundo a perícia, por execução. O Ministério Público do Pará denunciou 17 agentes pelos crimes.

 

Indígenas e quilombolas

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Índios e quilombolas também se tornam vítimas dos assassinatos e chacinas motivados pela posse de terras

Ainda que as ocorrências de conflito por terras envolvam, principalmente, trabalhadores rurais sem-terra, fazendeiros, posseiros e madeireiras, muitos assassinatos acontecem também em áreas indígenas e quilombolas.

Foram diferentes vítimas somente no primeiro semestre do ano passado, e todas elas levam à reflexão sobre a situação das terras de minorias no Brasil.

Em março de 2017, um líder indígena foi assassinado a golpes de facão e tiros enquanto trabalhava em uma lavoura, área sobreposta à terra indígena ocupada por posseiros na Aldeia Coité, em Palmeira dos Índios, Alagoas.

No mesmo mês, no Rio Grande do Sul, um cacique foi assassinado no município de Ronda Alta. A CPT acredita na relação do conflito ao arrendamento de terras para o plantio de soja. Antes da morte, a vítima já havia denunciado que vinha sendo ameaçada.

Em abril do ano passado, um homem foi morto com um tiro nas costas em área quilombola quando voltava para a comunidade Charco, em São Vicente Ferrer, no Maranhão.

 

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