Em reuniões paralelas a Sínodo da Igreja Católica, que aconteceram na Basílica de São Pedro, no Vaticano, povos da Amazônia aproveitaram a oportunidade para denunciar a triste realidade de quem vive na floresta: tráfico de pessoas, invasão de terras e conflitos.

A poucos metros de onde ocorria o encontro oficial da Igreja Católica – que também teve como objetivo discutir temas relacionados à Amazônia, porém somente aqueles com ligações diretas à religião – organizações indígenas se reuniram em outra igreja e debateram importantes assuntos sobre a vida na região amazônica. O Sínodo para a Amazônia da Igreja Católica acabou no domingo (27 de outubro).

Papa Feminicídio

Durante os dias da reunião entre os bispos convocada pelo papa Francisco, os indígenas decidiram comparecer ao Vaticano, mesmo que em um templo paralelo, para mostrar ao mundo que a região não é um lugar despovoado.

O principal foco foi falar sobre o agronegócio, a indústria madeireira, que está promovendo o aumento do desmatamento, queimadas e incêndios florestais, a mineração e garimpo ilegal e as grandes extensões de pastagens que vêm contribuindo significativamente para o aumento das mudanças climáticas.

Já sobre o tráfico de pessoas, eles trouxeram a alarmante pesquisa: de 2012 a 2019, a Rede Um Grito pela Vida, ligada à Igreja Católica, atendeu 57 mulheres vítimas do tráfico de pessoas somente em Manaus.

Violência não é novidade na região

Defender o meio ambiente, garantir que os povos nativos tenham direito às suas terras e lutar pela preservação das riquezas naturais do planeta são missões bastante arriscadas na América Latina. As atividades, que deveriam ser encaradas como louváveis – e até obrigação de todo cidadão – oferecem risco real de morte para aqueles que as executam.

O problema é grave e está bem perto de nós. Seis dos 10 países mais hostis para líderes e comunidades que defendem o meio ambiente e suas terras estão na América Latina. Os dados foram apresentados no relatório especial das Nações Unidas sobre a situação de defensores de direitos humanos. O relator foi o francês Michel Forst, que dividiu com o mundo as informações sobre esses casos de violência em 2016.

Foi para tentar entender esse cenário que um grupo de 30 jornalistas, fotógrafos e videomakers de sete países da região — Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guatemala, México e Peru — criou um banco de dados, em um investimento de cinco meses, detalhando quase 1.400 episódios de violência registrados nos últimos dez anos contra líderes ambientais e suas comunidades.

O projeto, batizado de “Terra de resistentes”, foi conduzido pelo periódico colombiano Consejo de Redacción e pela rede de notícias alemã DW Akademi, com apoio de outros parceiros, dentre eles o grupo que detém os direitos do jornal O Globo no Brasil.

Se o número de episódios de violência contra líderes ambientais e suas comunidades já choca, a constatação de que 56% dos casos aconteceu no Brasil deveria fazer com que governantes e cidadãos ligassem o sinal de alerta e dedicassem mais tempo a avaliar como reverter essa situação. De acordo com os ambientalistas da região, o índice de violência pode ser resultado da falta de apoio institucional às comunidades rurais.

Dentre os casos computados, estão as categorias: assassinatos (375) e casos de violência sem informação ou investigação (1.027). Destes, apenas 50 (3,68%) tiveram sentenças judiciais.