O Brasil é plural e multicultural em todos os aspectos, até mesmo quando o assunto é religião. E a fé, que deveria ser uma forma de propagação do bem, do respeito e da caridade, muitas vezes, se torna alvo e também motivação para atos de intolerância religiosa contra crenças diferentes.
Segundo levantamento do Ministério dos Direitos Humanos, realizado entre janeiro de 2015 e o primeiro semestre de 2017, o país registrou uma denúncia de intolerância religiosa a cada 15 horas.
No período, foram 1.486 relatos de discriminação religiosa, além dos casos subnotificados. Os números acendem um alerta sobre a falta de respeito e tolerância com a fé do próximo.
As atitudes preconceituosas vão de xingamentos, humilhações, agressões verbais e físicas a incêndio de espaços religiosos, destruição de templos e imagens sagradas.
O que isso quer dizer? Que são tempos de crimes de ódio que ultrapassam questões de gênero, raça, orientação sexual ou ideologia política. O ser humano cria guerras até por aquilo que deveria representar uma bandeira de paz. O VS traz um post para que você entenda mais sobre o atual cenário de intolerância religiosa no Brasil:
> Saiba quais são as religiões mais afetadas pela intolerância religiosa;
> Conheça casos de quem já sofreu com o desrespeito;
> Veja o caso de tolerância e parceria entre crenças;
> Saiba como denunciar esses casos.
Religiões mais afetadas
As crenças de origem africana são as que mais sofrem preconceito, com 39% dos casos registrados somente no primeiro semestre do ano passado. Isso demonstra, também, questões como o racismo intrínseco no ódio contra essas religiões.
Lideram o ranking a umbanda, com 26 casos, o candomblé, com 22, e as chamadas matrizes africanas tiveram 18 ocorrências de intolerância. Em seguida, ficam as religiões cristãs: católica (17) e evangélica (14).
Vítimas da intolerância religiosa
O segurança Bruno Santos convive praticamente todos os dias com o preconceito e a intolerância religiosa. Umbandista e médium, ele percebe a imediata mudança de comportamento assim que as pessoas ficam sabendo sobre sua fé.
“Onde eu trabalho, tem gente que não senta do meu lado no refeitório. Já fui chamado de enviado do capeta, há quem faça o sinal da cruz quando me vê ou torça o nariz. As expressões ‘tá repreendido’ ou ‘tá amarrado’ eu já perdi as contas de quantas vezes ouvi”.
O professor Lucas Onofre também é umbandista e lida com o preconceito desde criança, ainda na escola. Todo o estereótipo fazia com que ele tivesse medo ou vergonha de falar sobre sua religião.
“Me falaram que é coisa do demônio e quem é dessa religião vai para o inferno, que a macumba é coisa do diabo e muitas coisas mais. Hoje, há uma grande mudança, mas a intolerância religiosa ainda é muito grande. Onde trabalho, as crianças têm ensino religioso na escola e elas aprendem que todas as religiões devem ser respeitadas. Quando um deles me pergunta, converso e explico como funciona para mim. Gosto de sempre trabalhar a questão do respeito e de que a intolerância não leva a nada. Sempre peço para que se coloquem no lugar do oprimido”.
Evangélico, o administrativo de obras Cristián Mattos passou por situações difíceis na adolescência. Seguindo os preceitos da igreja com o objetivo de ter um relacionamento sério e relações sexuais somente depois do casamento, ele era constantemente alvo de brincadeiras entre os colegas.
“O pessoal ficava pesando muito porque eu não ficava com ninguém. Era muita pressão, mesmo eles sabendo que era a minha religião”.
Ateísmo – E quando não há crenças, é possível ser alvo de ódio e discriminação? Sim. Além do desrespeito à escolha, muitas pessoas tentam doutrinar aqueles que não seguem nenhuma fé.
Quando questionado e se declara ateu, o engenheiro de segurança Wander Reis percebe que o tratamento passa a ser diferente.
“Falam que quando eu precisar de Deus, por estar doente ou algo do tipo, aí sim vou acreditar. Outra situação aconteceu há pouco tempo: a igreja do meu amigo fez um lava-rápido comunitário para levantar dinheiro para um retiro. Quando descobriram que eu era ateu, fizeram questão de deixar meu carro por último”.
Respeito e tolerância
O terreiro de Conceição d’Lissá foi parcialmente destruído em um incêndio. O templo, dedicado à prática do candomblé, também já foi alvo de intolerância religiosa.
Mas se as religiões de forma geral pregam o fazer o bem, é essa a principal motivação e mudança que representa essa história.
O espaço está sendo reconstruído com a ajuda de evangélicos da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. O grupo arrecadou R$ 12 mil para reconstruir parte do segundo andar do terreiro, atingido pelo fogo em junho de 2014.
A pastora Lusmarina Campos foi alvo de críticas de membros e outros evangélicos, mas fez uma declaração ao portal G1 tomada por respeito e empatia.
“Se em nome de Cristo eles destroem, em nome de Cristo nós vamos reconstruir. É extremamente importante dar um testemunho positivo da nossa fé, porque o Cristo que está sendo utilizado para destruir um terreiro está sendo completamente mal interpretado”.
Como denunciar?
A Constituição Federal determina que o Brasil é um país laico, ou seja, o Estado não pode adotar, incentivar ou promover qualquer deus ou religião. A liberdade religiosa e de culto estão entre os direitos fundamentais dos cidadãos.
Por isso, a intolerância religiosa é considerada um crime de ódio que fere a dignidade. Se você for vítima ou presenciar o desrespeito, ligue para o Disque 100, canal para relatos de violação dos direitos humanos, e denuncie!
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