Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) mostram a triste e preocupante realidade da violência contra a mulher

Mais de 400 atendimentos a mulheres vítimas de violência sexual, física ou psicológica são registrados por dia em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. Um a cada quatro minutos. Os números, que mostram uma realidade assustadora para todas as moradoras do país, integram o Mapa da Violência – Homicídio de Mulheres, um dos mais respeitados anuários de violência nacional. A maior procura por serviços de saúde após casos de agressão se dá entre adolescentes de 12 a 17 anos.

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A dificuldade de combater esse tipo de violência pode ser explicada, em partes, pelos tipos de agressores mais comuns: o cônjuge da vítima, namorado, ex-namorado, irmão, pai e padrasto. Em só 13% dos casos, a agressão é cometida por uma pessoa desconhecida. Por essa proximidade com quem comete o abuso, as vítimas muitas vezes acabam escolhendo não procurar a polícia ou mesmo retirando a queixa depois de um curto prazo. Não é só isso, nos casos de abuso sexual cometidos por cônjuges e namorados, as mulheres muitas vezes não entendem que o ato seja de fato um crime previsto em lei e passível de prisão.

As estatísticas foram reunidas com base no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, que registra os atendimentos na rede do SUS. O relatório mostra que Mato Grosso do Sul, Acre, Roraima, Tocantins e Minas lideram a lista de Estados com as maiores taxas de procura por atendimento. Esses mesmos dados mostram também que são as mulheres jovens as que mais voltam para novos atendimentos no SUS após outros casos de violência.

Medidas de prevenção

Para tentar reprimir esse tipo de crime, o governo federal anunciou em maio deste ano que vai “comprar” folgas dos policiais para que eles trabalhem na prevenção e repressão de agressões domésticas e crimes de natureza sexual. Serão criados também um núcleo federal de enfrentamento à violência de gênero e um cadastro nacional de medidas restritivas contra os agressores. Para que isso seja possível, cada unidade da federação deverá enviar ao Ministério da Justiça um banco de dados sobre os crimes de violência contra a mulher, divididos por municípios e bairros.

Ao trocar as folgas dos policiais por mais um dia de trabalho remunerado, o objetivo é que cada vez mais policiais circulem pelos locais onde mais crimes são cometidos contra as mulheres.

Outro projeto do governo federal é unificar o protocolo de atendimento à mulher vítima de violência. Deixando assim de ser apenas um atendimento burocrático e se tornando também em um cuidado social com profissionais como psicólogos, assistentes sociais e médicos também fazendo parte de uma mesma equipe.

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O ano em que os abusos chegaram à mídia

O primeiro semestre de 2016 tem sido marcado por polêmicas envolvendo esse assunto, mas foi em maio, com a notícia de que uma jovem havia sofrido um estupro coletivo (por mais de 30 homens) no Rio de Janeiro que as notícias começaram a pipocar e mais questionamentos começaram a ser levantados. Campanhas contra a criminalização da vítima, protestos, opiniões divididas sobre quando uma adolescente pode ou não ser considerada vulnerável, muito foi debatido após o crime.

Se esse trágico caso servirá de divisor de águas na sociedade brasileira, só o tempo poderá dizer, mas conversar abertamente sobre um assunto tão delicado e bater de frente contra ideias pré-estabelecidas com certeza mudará a mentalidade de algumas pessoas e isso já pode ser considerado um ganho para a sociedade brasileira. Um triste ganho, porém, que só foi possível graças ao mais trágico caso de abuso já registrado no país.