A facada em Jair Bolsonaro durante um ato de campanha em Juiz de Fora, Mina Gerais, traz à tona, mais uma vez, o debate sobre violência na época das eleições. Constantemente tangenciado por conflitos que refletem o comportamento da sociedade como um todo, o meio político desperta paixões e fúrias e provoca reflexões sobre o momento que vivemos.

facada em Jair Bolsonaro

Bolsonaro foi atacado com uma faca durante corpo a corpo em Juiz de Fora, MG

Considerado extremista por uns, revolucionário, e até mesmo salvador para outros que enxergam o cenário político e econômico do país como um beco sem saída, o candidato do PSL é controverso e leva à emoção de seus discursos aquilo que milhões de brasileiros pretendem ouvir. Ao mesmo tempo, representa o que outros milhões temem para o futuro do país.

Seja amado ou odiado, símbolo da mudança ou da continuidade, nada justifica a facada em Jair Bolsonaro em plena campanha. Mesmo seus pensamentos tidos por minorias como discursos de ódio não devem ser combatidos com ainda mais violência. Para você entender todo esse contexto, o Violência Social preparou um post completo sobre o assunto:

> Facada em Jair Bolsonaro: entenda como o candidato à presidência foi atacado;

> Conheça o perfil do agressor;

> Adoração e rejeição: os discursos de Bolsonaro e o que isso representa no contexto social e político;

> Relembre casos de outros políticos que sofreram com a violência.

 

Ataque: como foi dada a facada em Jair Bolsonaro

A campanha do candidato à presidência Jair Bolsonaro chegava a Juiz de Fora, MG, no início de setembro, quando aconteceu o ataque. Ele era carregado nos ombros por alguns de seus apoiadores e foi ferido com uma faca na região da barriga.

Bolsonaro foi socorrido e levado à Santa Casa de Misericórdia da cidade. O ferimento causou lesões nos intestinos grosso e delgado. Desde a sua internação, no dia 6 de setembro, o candidato já passou por diversas cirurgias e iniciou a fisioterapia.

Jair Bolsonaro foi transferido para o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e, apesar da gravidade do ataque, segue em um quadro estável e se recuperando bem.

 

O agressor

A facada em Bolsonaro aconteceu durante um corpo a corpo que o candidato fazia na região do Parque Halfeld. Agredido por pessoas que estavam no local e preso por policiais logo após o ataque, o agressor foi identificado como Adélio Bispo de Oliveira, de 40 anos.

Servente de pedreiro, formado em pedagogia, filiado ao PSOL entre os anos de 2007 e 2014, o autor do atentado tem passagem na polícia em 2013 por lesão corporal.

Segundo os advogados do acusado, a principal motivação para o atentado foi a divergência de ideias e reforçaram que o objetivo não era matar, mas sim lesionar o candidato à presidência. Motivações religiosas e de cunho político também foram apontadas como tentativas de explicações para o crime.

Em depoimento, Oliveira tratou o ataque como um “imprevisto”, um “incidente”, alegando que pretendia dar uma resposta e um susto em Jair Bolsonaro. O servente de pedreiro afirmou que se sente ameaçado pelos discursos do candidato.

facada em Jair Bolsonaro

Autor do ataque a Bolsonaro foi detido por policiais logo após o crime e segue preso

 

Adoração e rejeição: os discursos de Jair Bolsonaro

É improvável que alguém permaneça indiferente ao que Bolsonaro afirma em suas declarações. Polêmico, enfático, tido como um punho forte e como o candidato “Ficha Limpa” que vai mudar o Brasil.

De um lado, a promessa de transformar o atual cenário político, acabar com a corrupção, apoiar e contar com o apoio de militares, além de levantar a economia – embora assuma que não entende sobre o assunto. De outro, declarações polêmicas e desrespeitosas em relação a minorias historicamente discriminadas na sociedade, como a população LGBT, negros e mulheres. Além do apoio declarado aos atos do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra durante os anos de ditadura militar.

Não é à toa que, para uns, Bolsonaro é visto como um messias, o verdadeiro rosto da mudança no cenário político e, para outros, é sinônimo de retrocesso, insegurança e a volta de tempos difíceis, limitações e censura.

Doutorando em ciência política pela USP (Universidade de São Paulo), Rafael Moreira acredita que o caso da facada em Jair Bolsonaro é o reflexo de um comportamento social.

“O atentado segue a tendência do que a sociedade é: a política é violenta porque a sociedade como um todo é violenta. Além disso, acaba se alinhando ao discurso armamentista que o próprio Bolsonaro prega”.

Para Moreira, a vida política tem riscos associados a ela, assim como outras profissões que exigem exposição pública.

“A política brasileira tem um caráter de privilegiar cargos executivos, além desse aspecto messiânico. Por isso, políticos que se posicionam em determinados discursos despertam paixões e correm mais riscos, principalmente no caso de alguém que chama mais atenção em uma pesquisa presidencial”.

 

Relembre casos recentes de violência política

Impactante e cheia de significado sobre o momento vivido pela política nacional, a facada em Jair Bolsonaro, embora direcionada e previamente pensada, não foi um ato isolado de violência no meio político, especialmente em ano de eleições que definem presidente, governadores, senadores e deputados.

Além da violência contra Bolsonaro, outros casos impressionaram todo o Brasil somente em 2018:

Marielle Franco – A vereadora Marielle Franco (PSOL – RJ) foi morta a tiros em março deste ano, na Região Central do Rio de Janeiro. Naquela noite, ela havia participado do evento “Jovens Negras Movendo as Estruturas). Ela estava no carro com o motorista Anderson Pedro Gomes, que também foi atingido e morreu, quando os bandidos emparelharam com o carro em que estavam e efetuaram os disparos. Seis meses após o ocorrido, o caso segue sem solução.

facada em Jair Bolsonaro

Marielle e o motorista Anderson Gomes foram mortos a tiros no Rio de Janeiro. Caso segue sem solução há seis meses

Caravana de Lula – Também em março deste ano, dois dos três ônibus da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram atingidos por quatro tiros, no Paraná.

Um dos veículos era ocupado por jornalistas e teve duas perfurações na lataria – dos dois lados. Outro tiro atingiu de raspão um dos vidros do mesmo veículo, mas ninguém se feriu. O outro ônibus atingido por um tiro levava convidados e estava no meio da comitiva, onde geralmente segue o veículo do ex-presidente.

Embora o ataque tenha sido planejado, segundo um dos delegados que investiga o caso, não se sabe quem foi o mandante da ação.

Funcionária da campanha de Guilherme Boulos – Mais recentemente, em agosto, uma trabalhadora da campanha do presidenciável Guilherme Boulos (PSOL) foi ameaçada com uma arma de fogo por um simpatizante do candidato Jair Bolsonaro. O caso aconteceu próximo ao comitê de Boulos, no bairro de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo.

Agressão a ex-vereador e candidato a deputado estadual – Nas últimas semanas, também no mês de agosto, o ex-vereador de Curitiba e candidato a deputado estadual Professor Galdino (PSL) foi espancado por um grupo sobre o qual existe a suspeita de que seria composto por skinheads.

 

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