Estudo revela que medo constante das ações dos traficantes inibia a ação de agressores
Criadas com o objetivo de pacificar os morros cariocas, as Unidades de Poícia Pacificadora (UPPs) mais uma vez está envolvida em notícias de aumento de violência. Dessa vez, um estudo divulgado pelo Instituto Promundo em parceria com o programa global Safe and Inclusive Cities (Cidades Seguras e Inclusivas), aponta aumento da violência doméstica em favelas com unidades de Polícia Pacificadora (UPP), no Rio de Janeiro.
Como dissemos, essa não é a primeira vez que a existência das UPPS está inserida em estatísticas de aumento de violência. Com a chegada das UPPs em 2008, as taxas de homicídio reduziram, bem como tiroteios, porém em 2013 e 2014, os números de homicídios cresceram, atingindo os níveis registrados antes da implementação, de acordo com dados de 2015 do Instituto da Segurança Pública, do governo estadual.
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A pesquisa foi realizada entre 2013 e 2016 com 56 homens, seus parentes e suas respectivas parceiras, de 18 a 56 anos de idade. Dentre os entrevistados se encontravam ex-traficantes, policiais e ativistas. O problema destacado na conclusão do estudo foi que os traficantes atuavam como mediadores de conflitos nas comunidades antes da chegada dos policiais, muitas vezes impedindo conflitos domésticos e brigas em eventos públicos.
Claro que é impossível afirmar que os morros eram mais pacíficos antes da chegada da polícia. O ambiente machista do tráfico permitia que os maridos e companheiros agredissem suas companheiras em caso de traição, por exemplo, sem que esses agressores fossem punidos. Porém, como tráfico controlando todas as ações da comunidade, os agressores precisavam pedir permissão para o tráfico antes de tomar qualquer atitude, caso contrário ambos (marido e esposa) acabavam sendo punidos pelo júri do crime: ela por ter traído, ele por ter agredido a esposa sem antes conversar com o chefe do tráfico. Parece impossível de acreditar, mas o medo de sofre represálias muitas vezes fazia com que as agressões fossem evitadas.
Na pesquisa, ex-traficantes declararam que o uso da violência contra mulher justificava-se também em outras situações: quando a vítima se queixava demais. desobedecia ou quando os homens tinham ciúmes. Para eles, esses atos de violência mostravam o domínio masculino na relação e por isso eram necessários para reforçar as normas do relacionamento. A Coordenadoria de Polícia Pacificadora não se manifestou sobre esses dados.
O estudo alertou que a polícia de proximidade precisa focar em trocas e ações legítimas que priorizem a segurança dos cidadãos, como a promoção de fóruns comunitários, uma iniciativa do antigo programa UPP Social, mas que não teve continuidade. A pesquisa sugere também que é necessário treinamento específico sobre como usar e portar armas para reduzir o impacto diário da presença policial nas comunidades.
Quando a violência é dentro de casa
Para auxiliar no esclarecimento de vítimas e familiares, que nem sempre sabem como agir e se é ou não a hora certa de procurar ajuda, o Violência Social tentou responder algumas das questões mais frequentes sobre a Lei Maria da Penha. Quer saber como denunciar, que tipos de violência se enquadram na lei ou quanto tempo demora para que a queixa seja analisada e medidas de proteção sejam tomadas? Leia mais aqui:
Maria da Penha – A lei que mudou o jogo
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