O Brasil inteiro parou na última semana para assistir – com horror – as cenas gravadas pelo médico José Hilson de Paiva, prefeito de Uruburetama. Paiva foi preso preventivamente por suspeita de abusar de mulheres e filmá-las com câmeras escondidas, sem o consentimento das pacientes. O caso, que choca pela crueldade, quantidade de vítimas e declarações frias do acusado, fez com que muitas pessoas se lembrassem de Roger Abdelmassih, o médico das celebridades, que era especializado em fertilização in vitro e foi condenado por mais de 50 estupros.
Quando as pessoas que deveriam ser éticas, zelar pela saúde física e emocional dos pacientes, são as autoras de crimes tão perversos, o país se une para clamar por justiça. Para relembrar quais foram as punições de Roger e tentar entender quais as semelhanças entre os casos, o Segurança da Família reuniu informações sobre ambos os criminosos e quais as medidas que já foram tomadas pelas autoridades.
José Hilson de Paiva
Quando se analisa com calma o caso do médico e prefeito de Uruburetama, tudo parece ainda mais grave. Isso porque, é denunciado por abusos sexuais de pacientes desde a década de 80. No caso mais recente, em 2018, quatro mulheres disseram terem sido estupradas pelo médico enquanto eram atendidas. E essas denúncias nunca se transformaram em qualquer tipo de condenação. Somente agora, com o vazamento das gravações, ele foi preso preventivamente.
Um dos primeiros veículos a denunciar Paiva, o G1 teve acesso a 63 arquivos de vídeo, que mostram claramente pacientes sendo estupradas pelo médico durante o atendimento. A associação Médica Brasileira declarou em nota que que o conteúdo de fato se trata claramente de abuso sexual.
Mais um agravante: Os ataques aconteciam durante consultas ginecológicas. A Associação Cearense de Ginecologia já confirmou que o médico não tem especialidade ginecológica, apesar de ter atuado por 30 anos na área.
A Justiça determinou, além da prisão preventiva, busca e apreensão de objetos em dois endereços de José Hilson nas cidades de Fortaleza e Uruburetama. A medida é para apreender computadores, celulares, tablets, HDs externos, CDs e DVDs gravados, receituários médicos, prescrições, agendas de consultas, além de outros objetos relacionados ao investigado.
Em defesa própria, o médico apenas afirmou que tem um vício em registrar seus momentos íntimos e que todas as relações foram consensuais. O medo de denunciar uma pessoa tão influente quanto o prefeito da cidade pode ter impedido muitas mulheres de procurarem a polícia, por isso ainda não é possível definir um número exato de vítimas.
Roger Abdelmassih
Foi essa grande influência na sociedade que fez também com que Roger Abdelmassih demorasse tanto tempo para ser denunciado. O médico, que hoje em dia cumpre pena de mais de 200 anos de cadeia, era uma das pessoas mais conhecidas do Brasil quando os abusos aconteceram.
Localizada em um dos endereços mais caros da cidade de São Paulo, a clínica de Roger era considerada a clinica de reprodução assistida mais moderna da América Latina. O urologista Roger Abdelmassih, desenvolvia ali um trabalho pioneiro, sendo o primeiro médico a conseguir resultados tão expressivos com a fertilização in vitro no brasil. Em vinte anos de atividade, sua clínica foi responsável pelo nascimento de mais de 7500 bebês.
As consultas eram caras, os métodos utilizados eram extremamente inovadores e Roger fazia questão de participar de congressos e seminários em todo o mundo, para assim aprimorar seus conhecimentos. Foi isso que fez com que a clínica passasse a ser frequentada por muita gente famosa – e poderosa.
O que ninguém poderia imaginar é que Roger se aproveitava do momento de maior fragilidade de suas pacientes. Enquanto elas em estado de sedação, ele beijava, tocava, acariciava partes intimas e, até mesmo, praticava relações sexuais com elas. O médico mais famoso do Brasil era, na verdade, um criminoso cruel, que transformava em vítimas de abuso mulheres que gastavam dezenas de milhares de reais para tentar realizar o sonho de ter um filho.
Tudo isso se manteve em segredo até 2008, quando uma ex-funcionária da clinica procurou o Ministério Público e relatou aos promotores que o Dr. Roger havia tentado beijá-la a força. Baseados no relato da testemunha, os policiais do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), começaram a investigar, silenciosamente, o médico.
As investigações passaram por uma série de obstáculos, muitos promotores não aceitavam o caso, as provas sumiam na delegacia. A forte influência de Roger na sociedade ficava clara ao se ver o quanto era complexo conseguir que ele fosse de fato acusado de algo. Mas junho de 2009, com base no depoimento de mais de 40 pacientes, o médico foi finalmente indiciado.
Abdelmassih foi condenado a 278 anos de prisão por 52 estupros e quatro tentativas de estupro a 39 mulheres. Ele cumpriu parte da pena em regime fechado (depois de ser encontrado pela polícia em 2014, porque Roger chegou a ser foragido por 3 anos) e desde 2017 está em prisão domiciliar. O benefício foi concedido por conta de sua idade já avançada e problemas de saúde. A história de Roger virou livro e série de televisão e com certeza ficará marcada na história da justiça brasileira.
Como denunciar
Esses casos, tão parecidos e tão devastadores para as vítimas, fazem com que muitas pessoas se perguntem como podem se defender de abusos médicos. Primeiro de tudo, é preciso ter em mente que denunciar é fundamental, não importa o quão influente o abusador seja.
Qualquer conduta médica inadequada ou que fira a sua intimidade pode ser denunciada para o Conselho Regional de Medicina da sua região; Além disso, é importante que a polícia seja acionada.
No Brasil, o principal canal de denúncias de crimes sexuais é o Disque Denúncia Nacional, ou Disque 100, coordenado e efetuado pela SEDH (Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República) em parceria com a Petrobras e o Cecria (Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes).
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