Eles merecem carinho, atenção, educação, segurança e, acima de tudo, respeito. Se, por um lado, sua vulnerabilidade é vista como alvo de cuidado e afeto, por outro, pessoas mal intencionadas podem se aproveitar dela para cometer diferentes tipos de violência. Crianças e adolescentes são as maiores vítimas de violência sexual no Brasil.

No Rio de Janeiro, esse dado também espanta. Divulgado na última semana, o Dossiê Criança e Adolescente 2018, do Instituto de Segurança Pública do RJ aponta que, em 2017, foram 3.886 casos registrados em delegacias do Estado. Ou seja, em média, dez menores foram vítimas de violência sexual por dia.

vítimas de violência sexual

Levando em conta não apenas as agressões sexuais, boa parte dos crimes contra crianças e adolescentes no ano passado foram cometidos por familiares, conhecidos ou pessoas próximas aos menores.

A informação demonstra ainda mais a vulnerabilidade dessa população, que lida desde muito cedo com a violência e dentro de casa. É bastante provável, também, a subnotificação das ocorrências de todo tipo de agressões contra menores, já que muitos deles são completamente dependentes das mesmas pessoas que os agridem.

Crianças e adolescentes são vítimas de violência sexual e de muitos outros crimes. Para você saber mais sobre esse tipo de sofrimento entre os pequenos, a equipe do VS preparou um post completo:

> A violência contra crianças e adolescentes no Rio de Janeiro e os indicadores sobre crimes sexuais contras menores no estado;

> Agressores são pessoas próximas às vítimas;

> Os efeitos psicológicos para as vítimas de violência sexual;

> Saiba como identificar os sinais de que menores podem estar sendo vítimas;

> Veja como denunciar casos de agressões contra crianças e adolescentes.

 

Violência contra crianças e adolescentes no RJ

De acordo com o dossiê elaborado pelo Instituto de Segurança Pública, os familiares foram os autores de 47% agressões físicas e dos crimes de ameaça e constrangimento ilegal, de 40% dos crimes de violência sexual e 38% dos crimes de violência moral.

Ainda segundo o estudo, crianças e adolescentes são os principais alvos nos crimes de violência sexual (59%) e periclitação da vida e da saúde (49%). As informações trazem os principais crimes relacionados a esse público e analisa a vitimização de menores de forma física, sexual, moral, psicológica, patrimonial e perigo de vida e de saúde.

 

Pessoas próximas às vítimas

O lar deveria ser o ambiente mais seguro, especialmente para crianças e adolescentes, mas ele também pode representar um risco. Isso porque menores são agredidos e vítimas de violência sexual muitas vezes cometida dentro da própria casa, seja por um familiar, ou cometida por uma pessoa próxima.

Segundo a pesquisa do ISP, conhecidos (sendo familiares ou não) são os autores de 40,4% dos crimes de violência sexual contra o público infantojuvenil. Na maior parte dos casos, o agressor é do sexo masculino e a vítima do sexo feminino. Quanto menor a idade, maior a propensão de ela se tornar vítima.

Para a ex policial civil, advogada e psicanalista Vanessa Paiva, o crime é cometido por conhecidos porque no ambiente doméstico a vulnerabilidade é ainda maior e fica ainda mais difícil descobrir um crime cometido entre quatro paredes contra um menor.

“As denúncias aumentaram, mas ainda não retratam a realidade dos fatos, já que muitos casos não são denunciados justamente porque o agressor é da família ou alguém próximo”.

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Efeitos psicológicos como consequência dos abusos

As agressões, a violência física, sexual e também a psicológica deixam marcas por toda a vida. Esta última, ainda que silenciosa, pode causar ainda mais danos que aquelas que são sentidas na pele.

Segundo a psicóloga Rosana Cibok, quanto mais baixa a idade do início do abuso, maiores e mais longos podem ser os danos, a duração do abuso e o grau de violência. Fatores como nível de parentesco e ausência de cuidadores que gerem afeto podem contribuir para consequências mais devastadoras.

“Crianças e adolescentes apresentam características apresentam características ligadas a violência como: sentimento de raiva, medo excessivo, sentimento de auto desvalorização, quadros de dificuldades escolares, depressão, recusa no estabelecimento de relações com homens, super sexualização nas relações, dificuldade em confiar nas pessoas, causando a limitação nas relações sociais, autoritarismo, auto conceito e autoestima negativos, comportamento agressivo, infelicidade generalizada, drogadição e distúrbios de personalidade”.

O trauma das vítimas de violência sexual pode se estender por toda a vida e ter impacto direto em questões relacionais e sexuais na vida adulta.

“Algumas mulheres que sofreram abuso na infância podem desenvolver problemas com sua sexualidade. Na área relacional, podemos ver mulheres que têm envolvimento em relações cujas características se assemelham às vividas na infância, ou seja, mantém relacionamentos abusivos, entendendo que isso é comum, o que chamamos de transgeracionalidade”.

A psicóloga considera ainda que existem pessoas mais resilientes que passam pelos traumas sem levar sequelas para a vida adulta, outras precisam de tratamento psicológico para a mudança de seus pensamentos. Nesses casos, a terapia é a melhor indicação para tratar essas questões.

 

Como identificar sinais de violência sexual?

As vítimas de violência sexual podem demonstrar traços de comportamento até mesmo mais evidentes do que as marcas físicas causadas pelas agressões. Em seu trabalho na Polícia Civil e seus estudos como psicanalista, Vanessa Paiva avalia alguns sinais da criança e do adolescente que estão sendo vítimas de abuso:

  • Mudança repentina de comportamento em relação a uma atividade ou a uma pessoa específica;
  • Proximidade excessiva de alguém também é um sinal de alerta que pode demonstrar manipulação emocional;
  • Regressão: uso de chupeta, fralda ou outras posturas infantis que haviam sido abandonados;
  • Silêncio e isolamento social;
  • Baixo rendimento na escola;
  • Comportamentos sexuais e uso de palavras e expressões pornográficas;
  • Negligência em relação a cuidados;
  • Doenças de natureza emocional, como dificuldades digestivas, por exemplo;
  • Manchas, machucados e outros sinais de traumas físicos.

“É importante sempre estar atento a qualquer mudança e, assim que há identificação de um problema, não necessariamente de cunho sexual, o Conselho Tutelar deve ser notificado”.

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O isolamento e a mudança de comportamento podem ser alguns dos sinais de que a criança ou adolescente é vítima de abuso

 

Como solucionar?

A educação é o principal caminho para que os casos de abusos diminuam e as crianças saibam relatar o que lhes aconteceu. Para Vanessa, é preciso desmistificar o ensino da sexualidade.

“Essa é a forma de ensinar sobre o próprio corpo, entender as diferenças entre os tipos de toques e saber a hora de buscar ajuda de outro adulto. Não adianta só punir e prender o agressor, o trabalho precisa ser muito mais aprofundado, com uma educação terapêutica”.

Denuncie – A denúncia é fundamental para garantir que os agressores pagarão pelos crimes e os abusos cessarão. Se você souber do caso de menores que são abusados, veja como relatar às autoridades:

  • Disque 100 – tem foco especial na denúncia de casos de violência contra crianças e adolescentes. O canal funciona 24 horas, 7 dias por semana;
  • Disque Denúncia 181;
  • Registre um boletim de ocorrência – procure diretamente a delegacia, que fará o registro do Boletim de Ocorrência e pedirá um Exame de Corpo de Delito como uma das evidências a serem analisadas no caso de estupro de crianças.