Por mais que estejamos em uma sociedade mais aberta e que caminha para uma civilidade maior, não podemos fechar os olhos. Casos de violência acontecem todos os dias. Situações que muitas vezes acreditamos que só existem em novelas e filmes, na verdade estão acontecendo dentro de casa, às vezes na frente de crianças que ainda não conseguem compreender todo o cenário que se desenvolve na sua frente. E quando aqueles que deveriam ser as primeiras referências de afeto e cuidado para a criança são os responsáveis por apresentar a dor, as consequências podem ser bastante sérias.

Pais, mães, avós, sejam quais forem os responsáveis pelo desenvolvimento emocional de uma nova vida, precisam ter em mente que todo ato de violência, seja ela física ou verbal, será absorvido por essa criança e os reflexos desses atos poderão ser vistos por bastante tempo.

Claro que, quando falamos a palavra “violência”, o que primeiro vem à nossa mente é a agressão física. É difícil não pensar nas marcas deixadas por esse ato de covardia. Mas precisamos lembrar que há um outro tipo de violência, que deixa marcas invisíveis e às vezes muito mais perigosas: a violência psicológica. Pode começar com uma frase simples, como “você é preguiçoso”, progredir para “você nunca faz nada certo”, chegar ao pesado “você é burro”, ou ainda muito pior. A verdade é que não importa qual o tamanho do rótulo que os pais colocam em cima das crianças, porque grande ou pequeno ele ficará colado lá por bastante tempo.

Quando você diz para uma criança que ela não gosta de ler e que não adianta nem tentar, por exemplo, ela aceita aquilo, sem discussões, até ter maturidade suficiente para compreender que não é verdade. Ao longo dos meus 45 anos de experiência como pedagoga pude presenciar algumas situações que corroboram essa questão. Todo filho é um espelho, que reflete tudo aquilo que é projetado nele em casa, seja bom ou ruim.

Existem três tipos de consequência para crianças que passam por situações de violência, física ou não, e elas podem ser observadas pela escola. São elas: Consequências físicas, Emocionais e Acadêmicas.

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–  As físicas incluem distúrbios estomacais, dores de cabeça e, em adolescentes, a automutilação.  Nos mais novos é comum observar a perda do controle dos esfíncteres, além de insônia e falta de apetite. Na verdade, uma maneira de ficar atento para a possibilidade de que algo não vai bem em casa é quando o comportamento beira os extremos: comer demais ou de menos, dormir demais ou ter insônia, e assim por diante.

– Já as consequências emocionais são baixa auto estima, comportamento auto destrutivo, crianças muito agressivas ou que quase não interagem com os colegas.

– Por fim, temos os sinais que se manifestam no meio acadêmico. Toda escola precisa ficar atenta à criança que costuma usar muito preto para desenhar, que aperta o lápis no papel com mais força do que o comum, que faz o desenho e, na sequência, cobre com uma cor escura… além dos casos em que as situações de violência são claramente retratadas nos desenhos. Em crianças mais novas, que nem sempre conseguem colocar em palavras o que estão sentindo, o desenho livre é uma ferramenta poderosa para detectar qualquer tipo de problema que esteja impedindo que ela seja plenamente feliz. Outro ponto importante é estar atento às crianças com uma inteligência perfeita, mas que não conseguem fixar a matéria. Isso pode ser um sinal de que o pensamento dela está longe dali.

É por isso que escolas como o Notre Dame se preocupam com a segurança mental das crianças e observar de perto cada aluno. Quando nós introduzimos o Programa Líder em Mim, que desenvolve as habilidades sócio emocionais das crianças desde o Ensino Fundamental, nossa finalidade foi justamente oferecer o suporte que as crianças necessitam para superar traumas ou situações que as abalam psicologicamente, além de poder cuidar da saúde emocional daqueles que ainda não apresentavam qualquer tipo de problema. Isso porque o cuidado com a saúde mental não deve ser tomado somente em casos de emergência. Precisamos começar a entender que um tratamento preventivo pode salvar vidas.

Mais do que apenas olhar para os alunos nas salas de aula, nós precisamos capacitar os professores, cuidar para que eles estejam sempre em seu melhor momento ao entrar na sala de aula. Os educadores também são seres humanos e, quando eles mesmos estão passando por problemas emocionais, dificilmente conseguirão detectar outros problemas nos jovens.

Temos também aquelas famílias que impõem regras demais, horários demais, tarefas demais. Claro que precisamos estabelecer limites, mas não podemos com isso acabar com todo o momento de lazer espontâneo. Criança que é muito podada em casa, invariavelmente vai encontrar um meio de extravasar a energia em outro local. E conseguem adivinhar que lugar será esse? Na escola, é claro!

Se segurar as rédeas com muita força é um problema, soltá-las demais também é. Pais permissivos demais, que não deixam que os filhos entendam que algumas decisões são de responsabilidade total dos adultos e que elas precisam simplesmente acatar, se tornam pequenos tiranos, que não respeitam regras e não conseguem conviver bem com os coleguinhas no ambiente escolar.

Sim, é possível cometer um ato de violência contra o desenvolvimento do seu filho tentando fazer o bem. Então esteja atento, não cobre demais, não solte demais e não se esqueça: a qualidade do que o espelho vai refletir depende diretamente do que você projetar nele.


Por: Lenice Micheletti, especialista em educação com mais de 40 anos de experiência, fundadora do Colégio Notre Dame