Você com certeza já ouviu falar sobre o Baleia Azul. O jogo, que apresenta uma série de 50 desafios macabros, que tem como objetivo final que o jogador se suicide, tem como principal alvo os adolescentes. No Brasil há pelo menos dois casos de morte sob investigação policial, além de uma tentativa de suicídio, que supostamente podem ter relação com o jogo. Mas de onde ele surgiu?
Nessa matéria vamos apresentar:
- Qual é a origem do Jogo?
- O que motiva os adolescentes a entrar em um desafio que tem como fim a morte?
- Baleia Azul e depressão – Como detectar mudanças de comportamento nos jovens?
- A prevenção pode começar na escola
- Sinais claros de que o adolescente está participando do jogo
- Como denunciar
QUAL É A ORIGEM DO JOGO
O Baleia Azul surgiu através de uma notícia falsa publicada na Rússia em 2016. O portal “Snopes”, que é especializado em verificar a veracidade de boatos que se alastram pela internet conseguiu rastrear a origem da matéria, que foi publicada pelo portal Novaya Gazeta e apontava que cerca de 130 jovens russos haviam cometido suicídio após participar de um jogo denominado “Baleia Azul”. Os dados da matéria do Novaya não tinham qualquer apuração e os suicídios não foram realmente confirmados, bem como a existência do jogo.
O estrago da matéria falsa porém já estava feito. Em todo o mundo jovens começaram a buscar mais informações sobre os 50 desafios propostos, enquanto aproveitadores passaram a se comportar como os chamados “curadores”, que são os responsáveis por enviar os desafios e monitorar se os jogadores estão cumprindo cada uma das etapas. No Brasil o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) determinou que a Polícia Federal investigue os desafios. De acordo com comunicado divulgado pelo governo na última quarta-feira (26), a orientação foi dada pelo ministro Osmar Serraglio em resposta ao pedido do prefeito de Curitiba Rafael Greca e de quatro deputados federais: Laudívio Carvalho, Carmem Zanoto, Pollyana Gama e Eliziane Gama. Instigar ou induzir ao suicídio é considerado crime pelo artigo 122 do Código Penal.
QUAL É A DINÂMICA DO JOGO?
O Baleia Azul se trata na verdade de uma série de conversas entre os curadores e os jovens. Os organizadores procuram os adolescentes e propõem para eles uma série de 50 desafios que incluem acordar de madrugada para assistir vídeos de terror, auto mutilação, privação do sono, voto de silêncio e, por fim, o suicídio.
Os jovens são procurados através das redes sociais e os curadores começam a conversa perguntando sobre o seu interesse em participar. Após a aceitação, começa uma rotina macabra de desafios e ameaças por parte dos curadores, que levam os jovens a acreditar que estão sendo monitorados e que sofrerão consequências sérias caso não cumpram alguma das exigências.
Por questões de segurança e para que evitar que os desafios sejam ainda mais disseminados, optamos por não publicar as 50 etapas do jogo.
O QUE MOTIVA OS ADOLESCENTES?
De acordo com a psicóloga Cleusa Sakamoto, docente e Coordenadora do Núcleo Psicopedagógico da Universidade Fapcom, o desejo de superação pessoal, que em geral é inconsciente, é um dos grandes motivadores. “A pessoa se sente provocada, mas não tem necessariamente consciência disso. Considero que os jovens que se sentem atraídos por este jogo e resolvem participar, entram sem consciência do que estão aceitando e, provavelmente, no início não têm condições de perceber o que vai ocorrer ao longo de todo o processo”, explica.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) também mostram que cerca de 90% dos casos de suicídio estão ligados a algum problema psicológico, isso é, podem estar ligados a doenças mentais, como a depressão. Cleusa considera que a depressão pode sim ser um dos elementos motivadores para a entrada no Baleia Azul.
“Os jovens hoje não colocam filtros, estão mais impulsivos do que nunca”, Cleusa Sakamoto.
BALEIA AZUL E DEPRESSÃO – COMO PERCEBER OS SINAIS
Os dados da OMS indicam ainda que nos últimos 12 anos tivemos um aumento de 10% dos casos de suicídio na população jovem. Um dos principais indicativos de que os jovens estão passando por algum conflito é a mudança repentina de comportamento, mas a quais sinais os pais devem ficar atentos?
Youtuber Felipe Neto fala sobre o jogo Baleia Azul
“Uma coisa que é bastante complicada é que a característica do comportamento adolescente já é a instabilidade, uma certa impulsividade. Então como a gente vai ter uma referência de mudança de comportamento no jovem, se ele já apresenta um comportamento instável? É preciso uma avaliação bastante delicada, cuidadosa, para ter uma referência do que melhorou ou piorou no comportamento do adolescente”, explica a psicóloga Gisela Monteiro, que fala sobre relações humanas através do canal “Falatório com Gisela”.
Confira em vídeo o posicionamento completo de Gisela Monteiro sobre o jogo Baleia Azul:
De acordo com Cleusa, os adolescentes são bastante irreverentes ou muito retraídos, e por isso muitos pais têm dificuldade de perceber mudanças, mas é preciso estar alerta para quando eles mudam drasticamente seu comportamento usual. “No caso de Bullying, pode ser mais fácil perceber caso os pais encontrem os filhos em algum momento do dia, pois eles podem aparecer machucados, com roupas rasgadas, tendo “perdido” objetos ou dinheiro, apresentam atitude de medo e queixam-se de ir à escola (quando é lá que ocorre a violência). Já os sinais de depressão podem ser: indiferença em relação a tudo ou irritabilidade, insônia ou sono excessivo, falta de apetite ou compulsão alimentar, retraimento excessivo (de amigos, familiares) ou impulsividade elevada (faz tudo que vem à mente, age sem pensar)”.
Já no caso de pensamentos suicidas, a observação é mais difícil, pois nem sempre sentimentos como esses são verbalizados. “É importante perceber falta de ânimo e desinteresse pelo cotidiano. Ideias suicidas não significam necessariamente pensar em cometer o ato do suicídio, mas também expressar a ideia de que a vida não tem sentido para pessoa”, explica Cleusa.
SINAIS CLAROS DE QUE O ADOLESCENTE ESTÁ PARTICIPANDO DO JOGO
No caso do jogo Baleia Azul, é preciso também ficar atentos a sinais como:
- Cortes nas mãos e pernas;
- Mudança de hábitos de sono, já que o jogo induz o adolescente a acordar durante a madrugada;
Silêncio repentino; - Posts em redes sociais com os dizeres “#iamwhale”;
- Uso de roupas de manga longa mesmo no calor (para esconder os cortes);
Cortes nos lábios; - Interesse em sair de casa em horários estranhos.
Os pais precisam ainda recordar os jovens sobre a importância de não agir por impulso e de refletir sobre as consequências de seus atos. É de extrema importância também que falem abertamente sobre o jogo com eles e orientem que, caso já tenham ingressado no jogo, peçam ajuda. “O jovem precisa saber que pode sair do jogo e que as ameaças podem ser abordadas adequadamente se ele tiver um apoio de adultos experientes, ou especialistas. É necessário que eles reconheçam que fazemos escolhas erradas às vezes e que, entrar neste jogo, foi uma delas”, orienta Cleusa.
A PREVENÇÃO PODE COMEÇAR NA ESCOLA
A prevenção da depressão em jovens e crianças pode começar na escola. É o que acredita o médico psiquiatra Celso Lopes de Souza, fundador do Programa Semente, metodologia que está sendo aplicada em escolas brasileiras e que ensina os alunos a lidarem com as emoções.
O Programa oferece a possibilidade de preparar os alunos a lidarem com os próprios sentimentos, como ansiedade, medo e tristeza. “Saber reconhecer emoções, relacionando-as com os pensamentos que as geram e entendendo como tudo isso influencia o comportamento permite que cada um compreenda melhor as próprias limitações e conheça suas fortalezas, o que aumenta a confiança, o otimismo e a autoestima”, afirma Celso.
Para isso, o programa ensina ao aluno estratégias para identificar e questionar os pensamentos, especialmente quando há uma emoção desconfortável. Para Celso, as competências socioemocionais, se trabalhadas com êxito nas escolas, e também em casa, podem ser um grande trunfo tanto para prevenir que a tristeza e ou a frustação em crianças se tornem patológicas quanto para que os jovens não se sintam impulsionados a participar do desafio Baleia Azul.
“Os pais e as escolas precisam incorporar que as emoções importam. Do mesmo jeito que ensinamos as crianças a nadar e andar de bicicleta, devemos ensiná-las a lidar com suas emoções”, Celso Lopes de Souza
COMO DENUNCIAR
Quem for procurado por um dos curadores do Baleia Azul no Facebook deve imediatamente denunciar a publicação para que assim o perfil seja bloqueado pela rede social. É possível sinalizar como “Ameaçador, Violento ou Suicida”, gerando assim uma notificação para o próprio Facebook de que aquele perfil está infringindo as regras da Rede.
Além disso, a denúncia deve ser encaminhada para a Delegacia de Crimes Digitais para que o “curador” seja identificado e as medidas legais possam ser tomadas. Em caso de qualquer ameaça, a polícia deve ser imediatamente envolvida no caso através do Disque Denúncia – 181.
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