Defender o meio ambiente, garantir que os povos nativos tenham direito às suas terras e lutar pela preservação das riquezas naturais do planeta são missões bastante arriscadas na América Latina. As atividades, que deveriam ser encaradas como louváveis – e até obrigação de todo cidadão – oferecem risco real de morte para aqueles que as executam.
O problema é grave e está bem perto de nós. Seis dos 10 países mais hostis para líderes e comunidades que defendem o meio ambiente e suas terras estão na América Latina. Os dados foram apresentados no relatório especial das Nações Unidas sobre a situação de defensores de direitos humanos. O relator foi o francês Michel Forst, que dividiu com o mundo as informações sobre esses casos de violência em 2016.
Foi para tentar entender esse cenário que um grupo de 30 jornalistas, fotógrafos e videomakers de sete países da região — Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guatemala, México e Peru — criou um banco de dados, em um investimento de cinco meses, detalhando quase 1.400 episódios de violência registrados nos últimos dez anos contra líderes ambientais e suas comunidades.
O projeto, batizado de “Terra de resistentes”, foi conduzido pelo periódico colombiano Consejo de Redacción e pela rede de notícias alemã DW Akademi, com apoio de outros parceiros, dentre eles o grupo que detém os direitos do jornal O Globo no Brasil.
Os dados obtidos
Se o número de episódios de violência contra líderes ambientais e suas comunidades já choca, a constatação de que 56% dos casos aconteceu no Brasil deveria fazer com que governantes e cidadãos ligassem o sinal de alerta e dedicassem mais tempo a avaliar como reverter essa situação. De acordo com os ambientalistas da região, o índice de violência pode ser resultado da falta de apoio institucional às comunidades rurais.
Dentre os casos computados, estão as categorias: assassinatos (375) e casos de violência sem informação ou investigação (1.027). Destes, apenas 50 (3,68%) tiveram sentenças judiciais.
Os dados apontaram também que os homens são maioria dentre as vítimas, 81,7%. Os pesquisadores supõe que uma causa provável para essa discrepância de gêneros entre as vítimas seja porque os homens são os que têm tradicionalmente exercido cargos de liderança nas comunidades.
No total, 1.179 atos foram contra homens e mulheres e 177 contra comunidades ou organizações que defendem o meio ambiente e o território.
De assassinatos e ataques, a assédio judicial e deslocamento forçado, estes defensores pagam um preço muito alto por seu direito a um ambiente saudável e por protegerem ecossistemas estratégicos abrigados em seus territórios.
Minorias étnicas são as maiores vítimas
O estudo do “Terra de resistentes” mostrou ainda que 56% dos episódios de violência ocorreram contra as minorias étnicas, demonstrando que os territórios indígenas e de afrodescendentes (quilombolas) são especialmente vulneráveis. Apenas na Colômbia, dos 15 grupos étnicos afetados, onze estão em perigo de extinção.
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