Mais de cem torcedores do São Paulo invadiram o centro de treinamento da equipe na última semana para protestar contra a má fase do time, que venceu apenas dois dos últimos dez jogos. A ação, que terminou com jogadores agredidos e objetos furtados, abre espaço para uma grande discussão sobre a violência nos estádios, o papel do torcedor e a ação da polícia nos casos de violência ligada ao esporte.São Paulo _ Folha pressFonte: FolhaPress

Não é de hoje que se discute a existência de torcidas organizadas e os casos de violência extrema que estão ligados às torcidas dos maiores times do país. Seja enfrentando torcidas rivais ou usando de violência e vandalismo para cobrar resultados melhores de seu clube do coração, essas torcidas são capazes de causar grandes estragos. No caso citado acima, por exemplo, os atletas estavam no gramado e não tiveram tempo de voltar para os vestiários do centro de treinamento da Barra Funda. Muitos torcedores foram para cima do meia Michel Bastos e do volante Wesley, insultando-os e fazendo cobranças pelos recentes resultados ruins da equipe. O volante foi escoltado por um grupo para sair do gramado e, ainda assim, levou um chute. Além disso, dez camisas e 14 bolas foram roubadas durante a invasão.

Para botar ainda mais lenha na fogueira, existem especulações de que tudo isso seja motivado não só pelo péssimo desempenho em campo, mas também pelo fim ao apoio financeiro que a diretoria do São Paulo fornecia às organizadas. Seja qual for a justificativa, é importante analisar a ação da polícia e dos seguranças, que estavam presentes no local para evitar confrontos – e não evitaram.

Em nota, o clube afirmou que:

O São Paulo FC, clube aberto e democrático, que jamais repeliu manifestações espontâneas e autênticas, repudia veementemente a invasão ocorrida nesta manhã no CT da Barra Funda, por parte de uma minoria de integrantes de torcidas organizadas, usada como massa de manobra de pessoas interessadas em desestabilizar o Clube.

Tratou-se de ação premeditada, que incluiu, nos dias anteriores, uma série de ameaças anônimas e de incitação à violência.

O São Paulo FC não vai se intimidar e condena, com veemência, toda e qualquer ação violenta, que não representa e reflete o sentimento de milhões de nossos torcedores.

O São Paulo FC já fez todos os contatos e tomou as devidas providências com as autoridades competentes, visando ao pleno esclarecimento e reparação dos danos que a referida ação causou. Isso inclui a devida investigação contra os financiadores e apoiadores do ato, infelizmente fomentado por figuras que recentemente participaram de festejo com uma das torcidas presentes

Fonte: FolhaPress

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Quando o protesto se iniciou, apenas duas viaturas da polícia se posicionaram próximas ao local que já contava com mais de 100 torcedores. Quando a invasão aconteceu, os seguranças do próprio centro de treinamento não conseguiram impedir que os jogadores fossem surpreendidos – e agredidos – dentro do campo, nem que os objetos fossem roubados.

Em um país em que as torcidas organizadas são conhecidas por atos de extrema violência, conflitos constantes e brigas que chegam a acabar em tragédias é possível que mais de uma centena de pessoas irritadas se juntem para invadir um centro de treinamento e não sejam impedidas? Mais do que isso, como esperar que os jogadores trabalhem com tranquilidade e apresentem os resultados esperados se estão acuados?

Tentar evitar confronto para que as pessoas não saiam feridas em uma situação como essa é uma atitude certa sem da polícia e dos seguranças locais, mas permitir que a invasão aconteça e a integridade dos jogadores seja colocada em risco dessa maneira é extremamente perigoso.

Com gritos, xingamentos e rojões, os invasores intimidaram os jogadores, agrediram verbalmente todos, furtaram camisas e parte do material de treino dos atletas e deixaram o local sozinhos, sem qualquer ação da polícia ou dos seguranças (embora o ambiente continuasse tenso), para continuar o protesto na rua.