Como lidar com os haters, o outro lado da exposição na internet

Tecnologia permite a aproximação de desconhecidos, que podem reagir com mensagens boas e ruins

A fama tem seu preço. Antes do boom da internet, atores, cantores e todos os tipos de celebridades tinham que lidar com revistas de fofoca, especulações jornalísticas, programas direcionados e diferentes comentários. Hoje, a web aproxima ainda mais essa relação e permite que novas pessoas apareçam e divulguem seus talentos ou aquilo que acreditam. Mas, em meio à exposição, como lidar com os haters?

Para ser uma celebridade não é preciso mais aparecer na televisão ou ser ouvido em uma rádio. A exposição pública e a fama estão a um clique e de fácil acesso a qualquer pessoa.

Humor, relacionamentos, moda, beleza, esportes, animais. Seja qual for a sua preferência, é certo que existe alguém que produz conteúdo específico voltado a um nicho – seja em formato de vídeo ou em redes sociais, blogs e portais. Você mesmo que está lendo esse post pode ser um criador de conteúdo online.

E o que isso quer dizer? Que a linha tênue entre o público e o privado pode ir se tornando ainda mais dispersa e quase invisível na internet. À medida que a exposição aumenta, seja pela produção de conteúdo ou manifestação de pensamentos, qualquer pessoa pode se tornar uma celebridade da web.

Tornar-se conhecido é como furar uma bolha que envolve a segurança de estar em meio a seus amigos e familiares. É estar sujeito à adoração, a ser alvo de paixões e, também, de violência. Os discursos de ódio e as ofensas estão por toda a parte, por isso se faz tão necessários saber como lidar com os haters.

> Comentários negativos na internet e o trabalho dos influenciadores digitais;

> Como lidar com os haters? A opinião de quem já viveu essa situação;

> Distância e aproximação causados pela internet: de que forma isso impacta ou não a vida de quem vive conectado.

 

Os haters e os influenciadores

É bem provável que você já tenha se arrependido de ler os comentários de uma matéria pesada que relatava uma situação triste, violência ou tragédia. Os haters estão por toda a parte disseminando seus discursos de ódio e ofensas, e com ainda mais ênfase e paixão nos espaços daqueles que conquistaram fama produzindo os mais diversos conteúdos para a internet.

Influenciador digital, digital influencer, criador de conteúdo, content creator, youtuber, instagrammer, blogueiros. Seja qual for a autodefinição ou como você se refere a eles, são aquelas pessoas que se tornaram relevantes na internet dentro de seus segmentos.

Suas formas de pensar, agir, vestir e o que consomem são acompanhados por milhares e até milhões de fãs e seguidores. Todo esse impacto que eles geram a públicos de nicho faz com que constantemente sejam comparados e tratados como grandes celebridades e famosos, fazendo com que se tornem alvos mais fáceis dos haters.

Discursos de ódio – Em 2016, o projeto Comunica que Muda divulgou um estudo a respeito do comportamento dos internautas nas redes sociais, e o resultado do experimento foi bastante negativo no quesito temas sensíveis.

O algoritmo buscou em redes como Facebook, Twitter e Instagram, as mensagens que eram publicadas sobre racismo, posicionamento político e homofobia. Cerca de 84% das 393.284 menções identificadas continham abordagem negativa, preconceito e discriminação.

Os haters agem como uma forma de agressão “invisível”, já que são incapazes de criticar, xingar e ofender outras pessoas pessoalmente e se escondem atrás de computadores e smartphones.

 

Como lidar com os haters?

Pesquisar, se informar para produzir um conteúdo de qualidade, editar e postar. Tudo isso é parte da rotina de quem decide trabalhar com internet e influenciando outras pessoas digitalmente. Além desse compromisso constante, eles também interagem e retribuem o carinho de admiradores e precisam lidar com os haters.

Fã de lutas desde a infância, Vinícius Tavares acompanha vídeos no Youtube desde 2010 e sempre quis ter o próprio canal. Em dezembro de 2016, ele tirou a vontade da casa das ideias e nasceu o “Diretasso”, onde ele fala sobre competidores, bastidores, faz análises e tudo que diz respeito ao universo desse esporte.

O canal conta com mais de 134 mil inscritos e os vídeos sempre têm muitas visualizações. Apesar do sucesso no segmento, Tavares conta que ainda não vive exclusivamente de seu trabalho como digital influencer.

Sobre exposição online, haters, e o assunto do canal, ele explica que poucas vezes precisa lidar com a violência, mas existem casos específicos de fanáticos e comentários que beiram o desrespeito.

“Na internet algumas pessoas se sentem mais corajosas. Existem discussões entre inscritos nos comentários e uma ou outra pessoa me assistiu e me ameaçou, mas fora as ofensas verbais, nada mais ocorreu”.

Para ele, os haters são uma realidade e uma constante para quem decide trabalhar com internet. Para quem sonha em viver dela, é preciso aprender a conviver e pensar muito antes de postar determinado conteúdo.

“Lidar com os haters é bem ruim no começo e te faz mal mas, aos poucos, você aprende a dar mais valor às críticas construtivas e elogios e ignorar quem simplesmente quer te colocar para baixo”.

Karina Belarmino tem um canal homônimo no Youtube e uma legião de mais de 400 mil inscritos. Os vídeos e o conteúdo, que trata sobre slow fashion, qualidade de vida e saúde mental, começaram há quase quatro anos como uma forma de expressão e se tornou um trabalho.

Ela acredita que a exposição vem com julgamentos, por isso é tão importante manter a vida pessoal de forma mais privada e, a família, preservada.

“Tem um ditado entre os creators que diz ‘hater é indicativo de sucesso’. É uma brincadeira, mas realmente quando temos um alcance maior, vão aparecer pessoas que não se identificam com o conteúdo e acabam sendo maldosos, usando a tela do celular como escudo. As primeiras vezes acabei ficando um pouco abalada, mas com o tempo a gente aprende a lidar melhor. Tento manter sempre em mente que tem muito mais pessoas que gostam do meu trabalho e que aquele comentário díficil diz mais sobre quem escreveu do que sobre mim”.

Douglas Nobre acumula mais de 13 mil seguidores em sua conta no Instagram. Além disso, apresenta o quadro “De cara com Douglas Nobre”, onde entrevista famosos e artistas em seu canal no Youtube.

Para ele, lidar com os haters nunca foi preciso, mas apoiar e ser um ajudador daqueles que o acompanham e passam por situações como essa já é parte das suas atividades como digital influencer.

“É fundamental não se importar com os comentários maldosos e acreditar na sua verdade. Para influenciar outras pessoas você precisa viver o que fala”.

 

Distância e aproximação: quando as telas se tornam escudos

É muito fácil criticar, expor e ofender quando você não precisa dizer algo diretamente a alguém. E é exatamente essa facilidade e essa sensação de anonimato e segurança que proporcionam aos haters a ideia de que podem disseminar o ódio. Telas de smartphones e computadores funcionam como verdadeiros escudos para aqueles que tanto pensam em atacar outras pessoas.

Para a psicóloga Gisela Monteiro, a tecnologia permite esse tipo de relação. A distância dá margem para elogios e críticas.

“As pessoas criam perfis falsos, se escondem em uma relação de anonimato e têm uma sensação de poder. Aqueles que se expõem na internet estão em uma linha de frente: da mesma forma que entregam conteúdos, elas também têm retornos que podem ser diferentes do que esperam, por isso precisam ser cuidadosos”.

Gisela explica que na internet os conceitos de público e privado são constantemente confundidos.

“Por isso expor a intimidade é expor a fragilidade. Os influenciadores precisam lidar com os haters porque, muitas vezes, o conteúdo postado é a própria privacidade exposta. Muitos só pensam no sucesso como o retorno, mas há o outro lado”.

Para ela, o segredo para evitar a violência psicológica causada pelas ofensas está em pensar e filtrar antes mesmo de publicar um conteúdo.

“O ideal é não responder, não alimentar essa conversa negativa. É um preço que se paga pela exposição, por isso o ideal é divulgar a própria privacidade o mínimo possível”.

 

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